Araras passam no céu brumoso. Ouço seus gritos cortando o silêncio da manhã. É tarde, adiantado da hora onde um relógio parado marca um tempo fictício. Tudo é memória no emaranhado desse mesmo tempo que no instante em que é já foi, se fragmentou em mil pedaços perdidos dos momentos vividos ou apenas sonhados entre um despertar e outro. Já é manhã? De novo? Mais um dia que abre em clarões de luz sobre esse velho mundo. Mais um quarto de hora que escoa no canto dos pássaros sob a lua minguante que brilha no alto do céu mas ninguém a vê. Ninguém a percebe na correria do dia a dia que nos leva nas correntezas profundas de uma existência que ainda permanece como um vasto mistério de vagas ideias sobre o que somos para onde vamos, por que caminhos tortuosos e longínquos, desafiando a permanência no espaço tempo que nos resta como dádiva divina. Mas, que divino é esse que nos tritura com dentes de Cronos nos mastiga até os ossos e nos cospe fora porque somos amargos, almas humanas indigestas? O tempo não nos quer portanto nos devora, e assim sendo é chegada a hora de encerrar palavras, pois no alto das árvores as araras ainda falam mais alto que os meus pensamentos.