Puxa vida, perdi a hora! Caramba, a coletiva estava marcada para 14h, já são 16:30h, e agora? Como vou justificar isso? Ah, se pudesse fazer o tempo voltar.
A tarde corria apressada, as horas passavam rápido demais, a ressaca machucando a cabeça que parecia estar sendo martelada de dentro para fora. Um gosto de sei lá o quê na boca. Na falta de imagem melhor me socorre o velho gosto de guarda-chuva. Sempre tentei entender o sentido dessa imagem. Guarda-chuva?
Um dos raros filmes de longa-metragem feito por aqui. Não podia perder a entrevista coletiva. Cheio de estrelas num quarto de hotel, ops, de auditório de hotel cinco estrelas. Existe isso por aqui? Meus pés me conduzem adiante, como um fantasma, mal sinto a caminhada. Acho que vou parar de beber. A reunião virou festa e se estendeu demais. Já era manhã quando me toquei. Vou dar uma descansada, acordo, tomo um banho, faço um lanche e vou para a coletiva. Quando olhei o relógio pelo celular, saltei da cama como um raio ressecado e dolorido com a cabeça parecendo pesar toneladas de vazio. Aéreo. Tonto. Vazio. Cheio de saco cheio na mão. Cabeça de borracha.
Sento-me no banco da praça. Na realidade, uma pequena praça, pracinha. Uma sombra gostosa acaricia meus pensamentos. Sinto-me levemente melhor. Penso nada. Um casal de formigas passa bem do lado do banco de madeira que me acomoda. Cada uma parece querer ir para um lado. Uma parece querer voltar pelo mesmo caminho que vieram. A outra aponta para frente. Vamos, em frente, para o futuro. Meus olhos pesam tanto. Zzzz
Caramba, acordei assustado. Que estranho!
Olho a hora pelo celular com os olhos surpresos vejo que é meio dia ainda. Ufa, a coletiva está marcada para 14 h. dá tempo tranquilo de tomar um banho e fazer um lanche antes de ir para o hotel. Primeiro filme de longa metragem feita por essas plagas. Acho plaga uma palavra tão feia, brega demais, sei lá, deixa pra lá.
Elenco estelar para nosso pobre cinema. Tem gente que torce o nariz. Sentimentos da província. Ego machucado, gente mal resolvida, penso que sim. Tem que rir. Aqui, quando a pessoa consegue fazer alguma coisa é malevisto, rir ou chorar? Eis a questão. Puxa vida, a questão é fazer, ou não fazer? Bruno Bini trouxe outro Bruno, o Gagliasso, da Globo. Ah, tem o dedo do Fernando Meirelles, ah, tem o padrão Globo Filmes, ah…
A coletiva foi um sucesso. Penso com os olhos entreabertos. Será que o tempo voltou em looping? Essa praça é tão bacana, essa sombra. Acho que melhorei um pouco da ressaca que me consumia desde cedo. Gosto de guarda-chuva na ponta da língua portuguesa. Olho para o chão e vejo as formigas ainda decidindo para que lado ir. Uma quer voltar pelo mesmo caminho, a outra resoluta marcha para frente. Adiante, adiante, vamos pra frente, pro futuro!
Meus passos estão lerdos, sigo para casa. Preciso de uma cama para descansar minhas pernas, meus olhos pesam tanto. O gravador está ligado ainda. São 17 horas. Será que perdi a coletiva ou voltei no tempo? Entre idas e vindas nada muda, mas fica a pergunta: E se eu pudesse voltar no tempo?
lamentável cenário do cinema nacional.
esse negócio de ir metendo o pau é um saco, também me deixa triste…o cara faz sucesso e só recebe torcida de nariz na própria casa…quanto a fazer cinema o negócio é foda, fiz uma ponta nesse filme e quando vi a estrutura que nosso antigo batera do caximir tem em mãos me deu um orgulho quase infantil, pra frente Bruno!!!!! parabéns pelo texto Ferreira uma delicia….
a realidade é dura…mas ela esta aí pra quem quiser ver. não basta ter estrutura.hoje ta nivelado por baixo. sucesso é uma idéia falsa do que representa a real qualidade de um trabalho. mas nem todo mundo resiste ao mainstream. sucesso neles. o texto do Dudu ? legal pacas.abs.