Seu olhar revela a simplicidade e a poesia que traduzem momentos. Mas, em seus caminhos, mais do que revelar os outros, revela a si próprio. O olhar de quem é de fora sendo de dentro. Foi assim que entre seus momentos capturados escolheu revelar o que chamou de o “Meu amor, América”. Este é o nome escolhido para a exposição que narra os olhares do fotógrafo Lucas Ninno em seus percursos pelo continente. A curadoria está sendo realizada pelo amigo e fotógrafo Izan Peterlle.
A busca e o encontro. Encontrar seu caminho na fotografia, contar histórias. Foi difícil encontrar o norte, mas em uma busca pessoal e profissional, ele se encontrou. São seis anos até chegar aqui. “Não sei se é fotojornalismo, mas é uma maneira”. Em 2013 se mudou para o Chile onde ficou até retornar em 2014 para a Copa do Mundo. “Foi lá que começou a dar uma virada e comecei a aprender a contar histórias”.
Um dos maiores desafios para os fotógrafos em Cuiabá, acredita Ninno, é a falta de editores de fotografia nas redações de jornalismo. “Errava pra caramba, sem saber no que estava errando e como consertar, e no Chile em Santiago fotografei protesto, terremoto, incêndio, desastres naturais, e como trabalhava em agência de notícia, os editores eram muito experientes e em campo trabalhei lado a lado com profissionais fodas, fotógrafos experientes e aprendi muito com estes veteranos”.
É o registro da história, do que acontece hoje e estampa as capas dos jornais, a narrativa do cotidiano. Ninno se pergunta se existe uma profissão como esta que roda por tantos setores diferentes da sociedade e fornece uma visão geral da complexidade que é a vida. “Fotografar presidente do país até incêndio na periferia”.
Depois de passar pela Bolívia, Ninno descobriu duas irmãs e foi até a Alemanha para conhece-las. E foi aí que todo o seu amor pela América Latina veio como uma revelação. “Não sei se é uma movimentação, não sei se é porque sou daqui e por ter a barreira da própria língua, mas aqui a gente entende o que está nas entrelinhas, e os países da América Latina tem uma história em comum”.
Com isso, resolveu passar três meses viajando pelo interior da América Latina. Passou pelo Rio Grande do Sul onde fotografou a cultura gaúcha, pelo Uruguai, Argentina e Paraguai. “Voltei e não sabia o que fazer com tanta foto”.
Foi aí que outro encontro aconteceu, com o já amigo e fotógrafo Izan Petterle, outro apaixonado pela América Latina, que acompanhou de longe o caminho de Ninno nesta viagem e ajudou com dicas e orientações.
Curador da exposição, Izan e Ninno começaram a edição das fotografias do interior da América Latina, do cotidiano, e do Chile. Para encadear as fotos, Izan sugeriu a Ninno que tudo estivesse em preto e branco.
“Como trabalho muito com a grande angular e as séries em cor, a junção é difícil, e ele sugeriu o P&B. A exposição é autobiográfica, por isso o nome ‘Meu amor, América’, e o projeto é sobre o tema, não é jornalismo, mas a minha história com a fotografia, minha trajetória, como uma linha do tempo, de sair e deixar as coisas”.
É o sair para se encontrar. Explorar para entender o seu lugar no mundo, o seu papel. Ser e estar. Esta busca pelos seus caminhos próprios origina a exposição. E recentemente, Ninno foi o único brasileiro selecionado para a International Photography Art Exibition, na China, com uma foto feita no Chile. Durante os protestos, um casal se beija.
Mas, o caminho que encontrou tem um único destino: chegar até as pessoas. Ser e estar no mundo através de suas histórias, de suas narrativas. “O que eu quero é que entrem dentro da história”.