Por Geni Nuñez*
De acordo com a pesquisa Raio X do Feminicídio (Ministério Público de SP): “45% dos assassinatos ocorreram devido à separação (recente ou pedido de rompimento), 30% em decorrência de ciúme/posse, 17% em meio a uma discussão”. Lembrando que no feminicídio é central o vínculo afetivo com a vítima, na maciça maioria das vezes os assassinos são companheiros ou ex companheiros.
Disso podemos deduzir duas grandes questões: o modo como os homens cis hétero se vinculam romanticamente às mulheres é perigoso à vida delas.
É preciso que este modo seja nomeado: trata-se do amor monogâmico. Monogamia na qual é central a ideia de propriedade e posse, de modo que se a mulher quer terminar ela não pode, porque não pertence a si mesma e sim ao marido, o que leva ao segundo grande (e interligado) motivo das mortes: ciúme/posse.
Não é possível combater machismo e defender monogamia ao mesmo tempo, porque ela é a base fundamental da estrutura misógina.
75% dos assassinatos feminicidas são explicitamente pautados nos eixos basilares da monogamia.
Se sua relação não se pauta na posse/controle do corpo alheio por que chamá-la de monogamia?
Não monogamia pela vida das mulheres.
A invenção da propriedade privada é uma das mais nefastas invenções coloniais. Sempre prometeu, mas nunca garantiu saúde, segurança, tranquilidade, bem-viver.
Por afetos artesanais
*Geni Núñez, Guarani, ativista no movimento indígena, sapatão, não monogâmica. Mestre em Psicologia e Doutoranda em Ciências Humanas (UFSC). Pesquisa colonialidades.