Já faz muito tempo que a rua é a minha casa.

Tem dias que como muito. Tem dias que como nada.

Minha vida não é triste, triste é a minha situação.

Há dias que sou agredido e demonstro indignação.

Nunca quis morar na rua mas a vida obrigou.

Tinha sonho como qualquer pessoa, mas um dia fracassou.

Tentei um dia me mudar, para buscar melhor condição. Mas que engano da minha cabeça, fiquem sem abrigo, sem teto e sem chão.

Se vê alguém na rua, não despreze, por favor!

Somos pessoas humildes. Que a oportunidade acabou.

Você quer um futuro justo, e estudar para ser doutor. Mas lembre dos que moram na rua, e se puder, nos ajude por favor!”

Lupercinio Lima

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Na última sexta feira dia 14/07/2017 foi veiculada matéria jornalística com o seguinte título: “Moradores ameaçam atear fogo em albergue “cedido” para usuários”.

A grave questão social das pessoas em situação de rua decorrente da fragilidade de políticas públicas em Cuiabá foi exposta pela demolição dos imóveis na região do Morro da Luz conhecida como Ilha da Banana iniciada no dia 11/06/2017 cujo local abrigava cerca de 40 (quarenta) pessoas.

Coube ao Município de Cuiabá providências no sentido de acolher e abrigar as pessoas que residiam na Ilha da Banana e como medida emergencial foi providenciado um imóvel para acolhimento coletivo de uma parte daquelas pessoas.

A notícia, todavia, veicula a rejeição e revolta da comunidade local através da Associação do Bairro Centro Sul e expressa o preconceito e estigma com que a sociedade normalmente trata as pessoas que vivem em situação de rua.

Ora as pessoas em situação de rua não podem ficar nas praças, não podem ficar nas ruas, não podem ficar em abrigos, onde então elas ficarão?

Compreende-se as reivindicações dos moradores de referido bairro, todavia a cidade é local que deve abrigar a todos, inclusive os pobres, os sem tetos, os dependentes químicos, os doentes mentais, os idosos, os deficientes.

As pessoas que serão acolhidas no abrigo emergencial a ser aberto pelo Município encontram-se em grave situação de vulnerabilidade social e a condição de estar na rua revela o quão excluídos são, vínculos familiares e sociais rompidos, uso abusivo de álcool e drogas para encarar a dureza da vida e da rua, vivenciam na rua toda sorte de violência, enfrentam diariamente o preconceito e afastamento social.

O Movimento Nacional de Pessoas em Situação de Rua tem defendido como principal bandeira a ser levantada em favor das pessoas em situação de rua a questão da moradia e nesse sentido o acolhimento coletivo de pessoas que já possuem vínculos por viverem em grupos na rua se mostra como alternativa que está de acordo com a proposta do Movimento Nacional.

O que se pede através deste manifesto é a reflexão por uma cidade mais humana, mais acolhedora, menos violenta, menos excludente.

O Fórum de População de Rua se manifesta em favor do acolhimento das pessoas em situação de rua que viviam nos imóveis da Ilha da Banana na forma planejada pelo Município em residência coletiva e espera que tais pessoas sejam inseridas em programas de emprego e renda, recebam tratamento de saúde de que necessitem e sejam acompanhadas de forma humanizada a fim de que possam resgatar sua autonomia e dignidade.

Não se pode conceber a violência, a ameaça de incêndio e a agressividade recebendo os excluídos por ocasião do acolhimento.

O Fórum de População de Rua sugere por fim, seja promovido o diálogo e a composição entre os interesses de todos os envolvidos na expectativa de uma cidade que dialoga, mais tolerante com os diferentes, em especial com aqueles e aquelas que somente querem um lugar para chamar de lar, a sua dignidade humana reconhecida e respeitada.

FÓRUM DE POPULAÇÃO DE RUA

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