Dou-lhe uma:
Cristiano Diniz escreve que Mariana Paiva promove uma colisão com Hilda; seria um desencontro com a palavra, essa assertiva? Depois de um prólogo, o livro é dividido em duas partes: Tua aventura de ser e O Poço de Dentro. Cada uma das partes com uma bola preta centralizada que poderia ser um espelho, um relógio, um prato, mapa mundi, o próprio óvulo de onde partiriam reproduções infinitas pela palavra não dita; ou mal-dita. Vou pescando algumas delas para me distrair nesta segunda de carnaval. “Penso que ali poderia ser um bom cenário de alguma montagem de Grandes esperanças, de Charles Dickens. Ali Pip passearia sem sentir o tempo passar” (PAIVA, 2018, p. 19).
Vislumbro Salvador Dali e Pablo Picasso respondendo a altura esse questionamento. Relógios derretendo entre diversificados prismas para essa questão. “Palavras podem muito pouco às vezes” (idem, p 40).
Dou-lhe duas:
Da cratera profunda, do grotão vernáculo de onde salta o verbo de uma quarta camada surge Mariana Teixeira, tal qual fênix neolatina que, do vulcão sintático que percorre as grutas, traz a pá que lavra e de onde escorre a lava por entre os seixos que deixam rastros que a veia cala e floresce aorta. De cara lavada a atriz some do anonimato (por debaixo dos panos) – da posse tática; julgamento – nos quais o sonho se esfumaça. Confronto, partida, linguagem. A poesia aqui jaz e sela o voo do pássaro que rompe a cela da garganta e avança para além da gaiola que habita a pele.
Dou-lhe três:
De Mariana Basílio vem o “Tríptico Vital”: da existência; da experiência; da extensão. Sinto muito de T.S. Eliot nesse livro, algo que me soa épico. Mas há a presença de Bandeira, de Guimarães Rosa, de Drummond e muitos outros. Há o recorte temporal; mas há também outras cesuras estéticas, éticas, alteridade. Não sei se o céu é o limite, pois “O teto é um seco oceano” (BASÍLIO, 2018, p. 70).
Quando sabemos bem alguma coisa, não nos damos conta do nível de abstração com que lidamos. E esquecemos que outras pessoas, com experiências diferentes, não passaram pelas nossas histórias idiossincráticas de abstratização, como diria Pinker.
Vendido ao cavalheiro!
REFERÊNCIAS
BASÍLIO, Mariana. Tríptico Vital. São Paulo: Patuá,
PAIVA, Mariana. Vermelho-vida. São Paulo: Patuá, 2018.
Steven Pinker. Guia de escrita. São Paulo: Contexto, 2018.