Fazer cinema nas condições que se faz em Mato Grosso é puro heroísmo. Ou melhor, só os muito apaixonados pela arte da imagem em movimento conseguem imprimir uma marca no audiovisual. Só se consegue produzir quando se doa muito, uma entrega quase injustificável. Pense bem: olhando pelo lado profissional só mesmo a publicidade pode dar um alento para se trilhar nessa área da produção de linguagem, e olha que nem estou falando de arte, nem ao menos do cinemão, aquele feito em linha industrial, escala baseada no poder de consumo, que está na base do capitalismo, ou seja, cinema para americano ver.
Quando falamos em cinema de arte então o desastre é quase total. Não há sobreviventes nessa seara. O desastre é completo, ou melhor, você vai ter que pagar caro por isso. Até que produz-se muito no Brasil hoje, mas as gavetas estão abarrotadas de filmes que não conseguem circular, a não ser em festivais e mostras culturais, que é o nosso caso aqui. Estou falando da Mostra de Audiovisual Universitário América Latina UFMT (MAUAL). Uma boa janela de exibição panorâmica que dá o tom hoje da produção universitária no continente latino-americano. Olha que já vai para a 16ª Mostra, sinal de resistência. Isso é muito bom e reforça a ideia de que precisamos de mais espaços como esse. Praticamente a única forma de mostrar a produção independente e experimental da rapaziada. Estive nos três últimos anos, vi bons filmes, outros tateantes, mas entre erros e acertos vale muito mais é fazer, única forma de acertar um dia, botar as mãos e os olhos nas formas livres para se fazer arte.
Hoje, 23 de outubro de 2017, às 19h, no Centro Cultural UFMT acontece a noite de abertura da 16ª Mostra de Audiovisual Universitário América Latina UFMT (MAUAL). Serão exibidos curtas metragem produzidos por universitários e realizadores independentes de 5 países latino americanos ao longo da semana.
Na noite de abertura serão 8 curtas na Mostra Competitiva. Destaque para a ficção mexicana “Chambelán”, de Fabian Lopez e os mato-grossenses, “A Flor da Fruta”, experimental de Muxfeldt Junior, e “Filhos da Lua na Terra do Sol”, documentário de Danielle Bertolini. “Chambelán” apresenta o dilema do Jovem Daniel que está dividido entre a decisão de salvar sua própria vida ou participar de um crime. “A flor da fruta” narra poeticamente a sensualidade feminina através de um dos principais símbolos da cidade de Cuiabá: o caju. “Filhos da Lua na Terra do Sol” apresenta o desafio dos albinos de sobreviver em Cuiabá, uma das cidades mais quentes do mundo.
Todas as informações da Mostra, programação e catálogo oficial podem ser acessados no site: www.mostrauniversitariaufmt.com. A programação é inteiramente gratuita e segue por toda a semana até o dia 27 de outubro.