Mato Grosso tem personagens incríveis que marcaram ou vêm marcando trajetórias de alta relevância para a cultura do estado. Desde a divisão de seu território gigantesco em 1978 esse lado de cá iniciou um novo momento que permitiu criar uma autonomia em relação a Campo Grande que vivia uma grande explosão da cultura pop, de vanguarda, principalmente com o esplendor da arte musical e visual dos irmãos Espíndola e seus vários parceiros. Em que pese o trabalho iniciado aqui com Aline Figueiredo, ao lado de Humberto Espíndola, João Sebastião e Clóvis Irigarai, junto à Universidade Federal e Fundação de Cultura do estado que propiciou uma explosão de novos talentos. Demorou um bom tempo para a efetiva consolidação de novas referências culturais a ponto de, hoje, estarmos em posição muito mais relevante como potência, com cultura popular expressiva, de raiz mesmo, e uma emergente cultura urbana que ultrapassa as eternas dificuldades da questão do isolamento geográfico (hoje menos decisivo pois vivemos um momento em que a internet permite outros alcances) e se afirma em outros cenários.
Hoje vamos falar de Vera Capilé, que surge como expressão de uma cuiabanidade mas que tem raízes no sul do estado, ela nasceu em Dourados. Vera é gente que une os Mato Grossos, no canto, na poesia, na fusão de culturas e influências. Ela vai de rasqueado, chamamé, MPB, modas, sertanejo de raiz, tudo pautado por um lirismo arrebatador. E como canta a Vera! De família musical, artística e sensível, ela preenche todos os requisitos para ser contemplada agora como Mestra da Cultura, através do edital da Lei Aldir Blanc.A artista vai ter sua biografia registrada em livro, documentário e ainda, uma coletânea com as músicas mais marcantes de sua carreira será lançada.
“Disseram que precisavam do meu release e nem questionei. Depois, me chamaram para um café: ‘Vera, você vai ser homenageada’. Chorei igual criança”, se diverte ao lembrar da boa nova levada pela proponente do projeto, Tatiana Horevicht.
“Vera nasceu em Mato Grosso do Sul, numa época em que os estados eram um só. E ao viver boa parte de sua vida em Cuiabá, sua história se entrelaça de tal maneira com a cultura de Mato Grosso, que ela se tornou um dos ícones da cultura mato-grossense. Tem uma contribuição imensurável e incontestável quando revisitados os 60 anos de carreira que completa em 2021”, destaca Tatiana. Na empreitada recebe suporte do historiador Luiz Gustavo Lima e da cineasta Juliana Capilé.
E se alguém contestar a legitimidade da informação, Vera emenda brincando: “Já tenho até título de cidadã cuiabana”. E entrega: “acredita que ainda não tenho a de cidadã mato-grossense? Fica a dica!”, ri muito.
Livro, documentário e CD
No primeiro mês do projeto, cuja execução está focada na produção do livro, Vera sabe que ainda tem muito “chão” pela frente. “Me pediram para garimpar fotos antigas, vamos fazer fotos atuais e tenho dado É tanta coisa que estou revivendo”.
Tatiana ressalta que junto aos livros, serão encartados os CDs e está na lista dos pontos de distribuição, bibliotecas de todo o Estado de Cuiabá. “Dessa forma a gente contribui como fortalecimento da história cultural de nosso Estado”.
O documentário arremata as diferentes nuances da proposta selecionada pelo edital da Aldir Blanc, viabilizado pelo Governo de Mato Grosso via Secretaria de Cultura, Esportes e Lazer (Secel-MT) em parceria com o Governo Federal via Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo.
O secretário Beto Machado destaca celebrou a homenagem a Vera. “Além de ser uma artista fabulosa, Vera Capilé é uma ativista da cultura mato-grossense. Sua arte honra o conjunto do patrimônio imaterial de Mato Grosso”.
Trajetória inconteste
Vera levou o nome e a música de Mato Grosso para todo o Brasil e para a França em turnê pelo Projeto Pixinguinha ao lado de Simone Guimarães e Renato Brás. Ela cantou, entre outras músicas, o hino de São Benedito, do qual é devota. Ela também é reconhecida por performances memoráveis entoando os hinos de Cuiabá, Mato Grosso e nacional, à capela ou ao som da viola de cocho. Muitas destas, na companhia de outro grande parceiro, Habel Dy Anjos.
Além de toda a colheita que vem de uma longa trajetória em defesa da cultura mato-grossense, Vera espera que esse momento único de sua carreira possa reforçar suas raízes. “Gostaria muito que as pessoas soubessem que tive todas essas pessoas que deram base, a principal delas, meu pai”. Sinjão Capilé foi quem sempre a orientou.
“Nunca elogiou. Ele só me olhava. Mas um dia, quando ele estava me acompanhando em um show em 2015 e ele tinha 99 anos, ficou me olhando por um tempo como se nutrisse grande admiração e disparou: eu nunca vi alguém cantar como você. Eu sabia como me amava, mas até então, nunca tinha expressado. É um momento inesquecível da minha vida”.
Serviço
Homenagem a Vera Capilé
Projeto selecionado por edital da Lei Aldir Blanc/Secel-MT
Status: Em fase de produção
*Com informações da assessoria
Excelente artigo !