A italiana Miuccia Prada resistiu muito ao entrar para a moda. Doutora em Ciências Políticas, feminista declarada, é a neta/herdeira mais nova de Mário Prada (artesão) que na Milão de 1913 começou a linha Prada, fabricando malas, bolsas e shorts de banho de alta qualidade. Com a morte do avô, assumiu a Prada em 1978 e rapidamente transformou a empresa em uma potência.

Formadora de opinião, mulher íntegra, forte, inteligente, é diretora criativa da Prada e da Miu Miu (seu apelido de infância, marca mais acessível e lançada em 1992). Hoje aos 70 anos é uma figura rara na moda: “foi um grande problema para mim por muitos anos. Enquanto se lutava pelos direitos das mulheres, me tornar uma estilista parecia tomar o caminho oposto. Hoje acho este um trabalho muito sério e complexo.”

Em 1985 ela deslumbrou o mundo da moda com uma série de bolsas e mochilas em náylon preto (Pocono,material usado em tendas militares) que viraram objeto de desejo pela resistência, praticidade, utilidade e beleza, o emblemático “náylon da Prada” dos anos 80.

Essa senhora tímida que mal aparece ao final dos seus desfiles para agradecer (o que é de praxe), não segue a “onda do momento”, é intuitiva e original, suas coleções são expressões de si mesma. É a oitava mulher mais rica da moda e um de seus maiores nomes. Anna Wintour (Diretora de Redação da Vogue USA) disse: “a Prada é o único motivo para assistir a temporada de moda em Milão.”

Instintiva, humana, tem o misterioso poder/dom de antecipar/comunicar o que está por vir. Visionária, foi ela mesma quem autorizou o uso do nome de sua grife para o filme “O Diabo Veste Prada” estrelado por Meryl Streep que vestiu os looks Prada escolhidos por Miuccia e que foi sucesso no mundo todo. Seria a intuição um resumo de todo o conhecimento, toda a dor, toda a inteligência que foram absorvidas durante a criação da nossa mentalidade computadorizada?

A valorização da arte, a coragem diante de suas convicções, a irreverência, a força e um humor subversivo até, estão presentes em suas coleções. Na sua coleção Verão 2019  Prada e Miu Miu nos mostra a ressurgência do design de moda como valor fundamental, “para mim tudo se resume na atual discussão das novas liberdades e do extremo conservadorismo que avança, quero nas minhas roupas, mostrar o conflito entre estas duas forças.”

“Estou ofendendo alguém com isso?” É a pergunta que ela se faz antes de lançar algo e que está interessada em entender a humanidade.

Em 2015 inaugurou a nova Fundação Prada em Milão, com o objetivo de fomentar a arte ao alcance de todos. Com 19 mil metros quadrados, foi concebida pelo arquiteto holandês Rem Koolhass, com arquitetura arrojada cada exposição é organizada em um espaço diferente: a Torre, a Cisterna, a Galeria Sud, a Galeria Nord, a Biblioteca, o Podium, o Trittico, um cinema com 200 lugares. Contratou o diretor de cinema Wes Anderson para criar o cenário do Bar Luce, inspirado na Milão dos anos 50 em tons de rosa e verde. Desde 1995 é uma instituição dedicada à arte e cultura contemporâneas, trazendo para o público várias iniciativas como conferências sobre filosofia, exposições individuais, permanentes e temporárias, design, arquitetura, filmes.

“A educação vem da cultura e da ética e a solução é tentar unir as pessoas e não dividi-las.”

Da adolescente filiada ao partido comunista que distribuía panfletos na rua, feminista ardente a herdeira improvável, Miuccia Prada se transformou em referência com representações/experiências multifacetadas da moda e da arte que expande/expõe o fascínio da Prada para uma filosofia contemporânea sempre recontextualizando o design.

“Meu trabalho é complexo, eu proponho complexidade.”

Com integridade, potência e revolução inovadora, construiu um império que fatura anualmente 3,5 bilhões de dólares.

“A inteligência deve ser excitante e nunca chata.”

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Glenda Balbino Ferreira é pianista, publicitária, curso de moda incompleto, empresária dona da camisetaria VISHI e mãe de Theo Charbel, 55 anos.

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