O argumento que considero mais válido na crítica ao cinema brasileiro é o relativo à distribuição que sempre foi capenga dentro de nosso país. Faz-se mais que o que circula nas salas de cinema. Após debater exaustivamente várias questões problemáticas ao longo das décadas fica a sensação torpe de que o jogo sempre é jogado por um lado só da sociedade, pois lá se vão trinta anos de diagnósticos e juras de corrigir rumos. Pasme! Eu quero as transformações para ontem.
E voltando ao papo dos argumentos: produzir filmes já foi muito complicado num passado bem recente, de uma, duas gerações para trás, não era fácil fazer um filme por aqui. Não havia estrutura que propiciasse aos independentes jovens empreendedores acesso a uma ilha de edição, ou câmeras, luzes, ação (?). Tudo era complicado, as produtoras só serviam às agências e clientes governamentais.
Hoje a coisa está na mão. As imagens do meu celular são muiiiiiiiito melhores que as imagens da câmera da minha irmã, que tinha uma VHS (Very Home Sistem) – com a qual, entre uma parada e outra com a câmera emprestada, concluímos o nosso primeiro filme: PX 110 Mhz (1988), que de cara foi selecionado para o maior evento do país naquele momento em São Paulo no MIS, o 8º Video Brasil. Uma mostra paralela, marginal, out sider, do que havia de proto-novidades no Brasil. Uns vingaram, outros não. Normal.
Nossas produções tem muitos problemas, mas o mais importante é o exercício, é fazer, fazer e fazer. Daí você pode tirar um caldo de realizações
Mas fazer mostras é bacana, o cinema tem essa coisa do coletivo. Apesar de hoje em dia termos acesso a bilhões de imagens por dia vídeos postados diariamente criando novos nichos a cada reinvenção da linguagem – mas tudo virou um grande reality, não dá para pensar em conquistar tamanha audiência. O que predomina hoje são fenômenos de multidões com grandes bobagens produzidas em casa e fazendo um sucesso estrondoso a ponto de, os youtubers serem os heróis de uma cena contemporânea difusa. E faturam muito com isso. São as novas celebridades.
“Em 20 países de língua espanhola, mais o Brasil, a média do PIB dedicada à cultura está abaixo de 0,5%, enquanto a presença da internet cresce consideravelmente – cerca de 40% tem acesso – e se transforma em uma espécie de contrapeso para as políticas oficiais. Os dados são da Organização dos Estados Ibero Americanos – OEI – revelados numa enquete realizada em 2013. A pesquisa consultou 1.200 pessoas por país e tem uma margem de erro de 2%. A OEI chama a atenção dos Governos para dois pontos. O primeiro tem a ver com o fator econômico e o investimento no setor, e o segundo com o apoio e impulso aos valores de criação local e regional que contribuem para a apropriação social da cultura.
Especificamente sobre cinema a pesquisa mostra que 65% dos latino-americanos disseram não ter ido ao cinema no último ano, e só 9% realizaram a atividade uma vez por mês. Entre os países com mais cinéfilos estão a Costa Rica (14%), o Equador e a Venezuela (13%). Mais da metade assiste a vídeos (56%), contra 40% que nunca o fizeram. É pouco e muito preocupante o cenário.
A UFMT e o SEBRAE realizam com o fundamental apoio da Unila, UnB, SEC-MT, Latitude Filmes, Moviemento, Plano B, Drakkar, Inquietação Filmes, Maratona Fotográfica e José Medeiros a 15ª MAUAL – Mostra de Audiovisual Universitário da América Latina de 01 a 05 de agosto. A ideia é contribuir na distribuição das produções, fomentar a reflexão crítica da sociedade e superar diferenças geográficas por meio da tela e da linguagem fílmica.
Teatro Universitário, Campus Universitário Gabriel Novis Neves. Entrada franca.“
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