Os cientistas e as cientistas brasileiras vêm ao longo das últimas décadas dando provas de que o que não falta aqui é talento. Na vida brasileira, seja na ciência, nas artes, na administração pública, nos esportes, temos exemplos não raros de superação de todas as dificuldades inerentes na sociedade: baixa valorização dos profissionais brasileiros e falta de investimento, seja público ou privado.
Além desses fatores, existe um machismo tóxico que permeia todas essas relações, sempre colocando a mulher em plano de inferioridade, seja nas diferenças salariais (ocupando os mesmos cargos e com mesma jornada de trabalho, pasme!), seja na abertura de espaços em condições de se desenvolver construindo carreiras que tenham o mesmo impacto. As mulheres representam menos de 30% da força de trabalho em pesquisas científicas no mundo.
Você conhece alguma cientista? Muito provavelmente você irá citar Marie Curie (1867-1934), a primeira mulher a receber um Nobel, como exemplo, mas essa história já é bastante difundida, não vale. Quantas mais você já ouviu falar? Provavelmente poucas. As pesquisas de Marie foram fundamentais para o surgimento da radioterapia e a aplicação do Raio X.
Quando falamos em mulheres ligadas à ciência no Brasil, lembramos de nomes como das cientistas Carolina Bori ou Berta Lutz. Apesar de serem nomes expressivos, a quantidade de mulheres na ciência ainda é desigual.
Segundo o Escritório das Nações Unidas para o Espaço Exterior (Unoosa), em se tratando de pesquisas sobre ciência, tecnologia, engenharias e matemática, as mulheres representam 28,8% desta força de trabalho no mundo, enquanto os homens 72,2%.
Uma notícia que merece ser comemorada e divulgada foi destaque na imprensa brasileira nesses últimos dias veio da Bahia com o grupo HER, formado pelas engenheiras de petróleo Larissa Nery, de 25 anos, e Isabella Moresco, 24, pela arquiteta Natália Cunha, 24, e a designer Gabriela Pereira, 23, que venceu a etapa local do Nasa Space Apps Challenge realizada em Salvador, um desafio da NASA. O grupo agora está concorrendo à etapa MUNDIAL do Hackathon, maior maratona de programação do mundo.
O projeto se chama The Walking Cloud e utiliza a base de dados de umidade e temperatura, fornecidos pela NASA, a fim de criar um perfil histórico de risco para assim identificar cenários que tenham uma maior probabilidade de iniciar uma queimada.
A partir daí, drones movidos a energia solar irão carregar uma malha de bioplástico que capta a umidade presente na atmosfera da região criando uma espécie de chuva sobre a área crítica. O solo uma vez úmido dificulta a fácil combustão, agindo diretamente no triângulo do fogo, minimizando seu combustível, a matéria orgânica seca.
Criar um projeto com impacto global, levando representatividade de gênero e a bandeira do país é louvável por si só, ainda mais sabendo dos vários problemas que a ciência vem enfrentando nesses tempos obscuros de negacionismo.
A vitória de um grupo de mulheres a frente do Hackathon da NASA evidencia a existência do machismo, segundo o grupo, “caso contrário isso não seria novidade e já teríamos espaço na ciência e tecnologia. Por isso, o recado do HER para todas as meninas e mulheres é: dê um passo a frente, ocupe espaço e, principalmente, apoie outras mulheres.”
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