Por Sika*
Fim do dia.
Trânsito, mercado e, finalmente
casa.
Além daquela enxaqueca que você não sabe da onde saiu.
Será que é o calor de Cuiabá?
Pode ser.
Jogo as compras no chão.
Preguiça de arrumar tudo, mas acabo arrumando.
Tudo devidamente encaixado na geladeira.
Entro no quarto
e o lençol está do mesmo jeito que deixei de manhã:
amassado com as marcas do meu
corpo.
Preciso de um banho.
Mas daqueles que lavem a alma e tire esse peso
cansado,
remanescente de uma longa segunda-feira de trabalho.
Ligo o chuveiro e a água quentinha
cai.
Lavo tudo, como manda o protocolo, e fico
lá.
Respirando.
Queria lavar o cabelo,
mas já lavei pela manhã.
Droga.
Será que lavar demais é ruim?
Nem sei.
Já ouvi comentários.
Só sei que,
repentinamente,
molhei todos eles e fui contra todas essas regras.
Senti a água quente
escorrendo
do meu couro cabeludo até o pé.
Meu rosto,
que tive o cuidado de lavar,
já estava encharcado por toda aquela
água.
Quente, deliciosa.
Da mesma forma
meu cabelo,
que dessa vez vai ser privado das químicas.
Agora é hora de provar o
diferente,
que é somente a água que
cai.
É como se todo aquele peso do dia escorresse direto pro ralo.
E eu,
só fico parada,
sentindo toda essa troca invadir minha matéria.
A respiração
fica até mais ofegante.
Não queria sair tão cedo
daqui.
*Sika é artista plástica e jornalista. Como uma boa proletariada, gosta dos pequenos prazeres do dia-a-dia, como lavar os cabelos sem shampoo.
a poesia escorre como a água no teu corpo…