Por Matheus Salgado*
Estamos em meio a uma discussão bastante densa – talvez a primeira que já tenha visto com análise e aprofundamento consistentes – a respeito do racismo e todas as questões que envolvem brancos e negros no Brasil.
Sobre a discussão, há alguns aspectos que merecem destaque – e possivelmente sirvam de premissas:
O assunto, racismo, não é novidade para ninguém! Sempre, em qualquer contexto, o assunto chega como quem não quer nada e se instala. A questão é que ainda é tratado com muito tabu; poucas são as pessoas as quais, abertamente, são capazes de falar sobre o assunto – por isso a opção pelas frases feitas, preconceituosas ou não, é um ponto final seguro.
Todos sabemos que ser racista é errado. Não há um só meio em que fazer a afirmação “eu sou racista!” não será premissa para uma rejeição. E, por incrível que pareça, isso dificulta – e muito! – a discussão sobre o assunto já que normaliza qualquer ponto de vista. (Na verdade, acredito que há dois meios nos quais dizer que é racista seja normal ou bem visto: qualquer grupo nazista, por razões óbvias; ou reunião do “desconstruídos”, já que é frase introdução do exército da desconstrução para exemplificar seu constante exercício.)
O problema não será resolvido, provavelmente, até a sua morte. É triste aceitar, mas a raiz é profunda, densa e longa. Não será resolvido em cinquenta, setenta anos. Assumo que haverá uma boa evolução, mas, considerando qualquer processo evolutivo, não espere muito.
A palavra raiz (do latim radix), no dicionário, é definida como “órgão dos vegetais que fixa a planta no solo, absorvendo dele água e sais minerais indispensáveis à sua existência.”; sob a perspectiva da linguística, “morfema originário irredutível que contém o núcleo significativo comum a uma família linguística.” Das definições, destaco dois sintagmas: indispensável e irredutível.
Falar que o racismo é um problema enraizado pressupõe a existência desses dois adjetivos. E, apesar de não ser minimamente motivador – posto essa constatação, é fundamental conhecermos o que é enfrentado, e mais, termos a real noção da importância e dificuldade. A tarefa vai além da desconstrução. É uma “desraização” – mais forte, é alterar o inalterável, reduzir o irredutível, dispensar o indispensável.
Para isso, proponho, a partir das premissas, que todos os dias não deixemos a causa cair. Não se pode acreditar que o racismo não deva ser explicado, conversado, falado, tocado diariamente. Não é preciso uma morte ou um grande evento para isso. Precisa-se, sim, de palavras, textos, vídeos que traduzam as sensações das vítimas, que transformem em tangíveis e faça com que a realidade seja explorada da maneira mais torpe – para que todos conheçam o mal que faz.
O combate precisa ser mais firme, irredutível e indispensável que qualquer definição de raiz pode apontar. É um exercício árduo de exposição, explanação, explicação, e, sobretudo, de fortalecimento.
Não deixe a causa cair. Proponha. Converse. Argumente. Aprofunde. Você vai morrer, o problema estará lá, mas a discussão ganhará vida.
*Matheus Salgado, 29, professor de gramática, baixista, curioso, leitor, composto por música e linguística.