Por Arthur Santos da Silva*
de 2016 dezembro 8
>>>>>>> “Ninguém simula o mundo, se ele é sempre o mesmo”. A frase é do escritor Carlos Nejar e é do livro O Evangelho Segundo o Vento. Certamente o melhor livro que pude ler. E o mundo é sempre o mesmo. Digo ainda mais forte pensando nas cidades. As cidades são sempre as mesmas. Ao menos as que conheço. Um punhado de gente de olhos brancos, raiados e arregalados. É homem querendo explodir em cada esquina. Mulher molhada de medo dentro do ônibus. É caos, fim de mundo. E as ruas, por serem retas, são corredores do caos. Ainda existe o curral das paredes mofadas. Prédio reto, alto e velho, com parede mofada do lado de fora. A gente circula pelas ruas, corredores currais. Porque a ciência é luz, é reta, digna de firmeza por vontade de dominar a regular natureza. Mas o homem também é natureza e por aí comeu a própria boca. Se vivesse no mar, o planejamento seria diferente. O oceano é sem domínio. Deve ser por falta de força o motivo de ainda não vivermos no mar. Ou pelas ondas. Mas aí está uma coisa que não duvido sobre o futuro (O futuro também é reto. – agudo para a direita >>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>).
Sobre a natureza reta, pergunte o motivo do coqueiro ser o escolhido sempre. Antes as palmeiras reais. Irreais não servem. Quando derrubaremos os prédios e pensaremos superfícies como curvas eu não sei. Talvez nunca. Os ângulos da vida estão desordenados numa ordem que arremessa os olhos. Eu realmente não sei. Você também não. Continuaremos caminhando, caminhando, com os olhos brancos arregalados. Repare que caminhamos sempre até achar uma parede para chorar. Pode ser um quarto, banheiro, sala ou canto de muro com gordura de braço roçado. É sempre parede. Olhemos os rostos, observemos. Homem e mulher querem gritar. A gente quer rasgar a boca gritando. Rasgar o som da palavra gritando e melhor que ninguém entenda quando o ouvido receber vermelho. Um ônibus feliz seria de passageiros sentados, gritando até chegar ao trabalho. Lá onde todo mundo trabalha é preciso silêncio. Na volta o mundo grita novamente, estoura crânio com som desesperado. Atirar na cara do vizinho não pode. Passar faca amolada na barriga da conhecida também não. Suicídio é fraqueza, seu merda. Crosta terrestre: camada externa e sólida; Manto: conjunto de vários tipos de rochas em estado pastoso; Núcleo: parte interna do planeta composta por ferro e níquel. Antes de tudo há morte, receita imutável. É ruim escrever e simular incertezas. Por isso personagens existem. >>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>
>>>>>>>>>>>>>>> — A velha dialética corpo e espírito será sempre velha. Inexplicável no ponto que me faz sentir medo. Também faz você sentir medo. E a memória é o tempo. Esse espaço invisível de horas e dias e anos e infinitos que se somam em infinitos. É o tempo que nos determina. Por aí faltou a coragem de quando pensávamos em conflitos. Talvez pelas guerras que não falharam não queremos pensar em conflitos. Sejamos frutos dessa dinâmica universal dos homens-ninguém. Sejamos ninguém pela memória, que é o tempo e a tradição do medo. Um espaço entre muros que quando medido não tem milímetro de máximo. Eu quero ser espírito e por algum motivo ser como estrutura física que sela o milímetro de máximo. Preciso perder a consciência – Hoje a imagem é o personagem. Eu aqui escrito reprime. Cenário com ruídos e mormaço.>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>> Simulo um fim por ser sempre o mesmo: o que é eu não sei, mas está ao lado direito. Crosta terrestre: camada externa e sólida; Manto: conjunto de vários tipos de rochas em estado pastoso; Núcleo: parte interna do planeta composta por ferro e níquel. Antes de tudo há morte, receita imutável. >>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>de 2016 dezembro 8. Ninguém simula o mundo, se ele é sempre o mesmo.>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>.
*Arthur Santos da Silva é paraibano, historiador e jornalista. Recria memórias.