Com a guitarra em punho, seu manifesto é o palco, aonde canta com a liberdade dos artistas que se entregam ao prazer de fazer o que se ama. É mais um pássaro que alça vôos maiores que o ninho de onde veio.
A metamorfose de sua identidade acontece, tal qual o camaleão que a inspira, ao perpassar por suas diferentes personalidades que refletem em seu modo de vestir, no corte de seu cabelo, mas principalmente, em suas composições.
Com o início do Sarau das Artes Free, lá em meados de 2010, reivindicou o seu espaço junto ao microfone e dominou aquele palco que era livre para todos. Antes, na bagagem contava com suas interpretações de músicas dos Beatles, Bowie, Queen, Arctic Monkeys, The Kooks.
A presença firme no palco já era notada. Mas, como todo bom camaleão se metamorfoseou em si mesma, e revelou aos olhares curiosos que a acompanharam, o verdadeiro sentido de sua arte. Suas primeiras composições próprias trazidas ao público contam histórias sobre saudade, amor, distância, e as descobertas de sua identidade sexual em um mundo reverberado por tabus e machismo.
Filha do Caximir, Theo Charbel espalhou sua música autoral por Cuiabá e resgatou a banda da década de 80, da qual o pai, Capileh Charbel, juntamente com seu padrinho Eduardo Ferreira e o tio André Balbino, fizeram história.
O ninho é o lugar onde se nasce e para onde sempre se retorna, mas agora, suas asas batem em direção à maior cidade do país, São Paulo. O desafio é se consolidar em uma cena independente e autoral. Mesmo que o vôo seja difícil, é preciso partir e suas malas estão prontas.
A ponte aérea Cuiabá-São Paulo já se faz presente na vida da artista, que com a mochila recheada de sonhos e canções, pousou no home-studio do pai para montar o álbum e fazer vibrar os acordes de sua guitarra, o batuque da sua bateria, o grave do contrabaixo. “Flow” ganhou vida em 2013.
O cenário da terra da garoa abriga a produção de um novo disco e um videoclipe da música “Gates of Hellcity”. “A música tem uma pegada bastante disco e um dos filmes que mais gosto sobre é o Saturday Night Fever, onde o John Travolta anda no ritmo das músicas. Então eu incorporei isso no vídeo e saio andando pela cidade ouvindo a música no fone de ouvido, cantando e andando no ritmo da música, que é uma das coisas que mais gosto de fazer”.
O clipe também terá uma reflexão profunda que Theo Charbel acha importante contextualizar.
Theo acredita que o clipe traz uma mensagem para as mulheres, para mulheres da música e do rock’n’roll, para as mulheres que estão em lugares que socialmente não são vistos como ‘lugar de mulher’. “Para enfrentarem seus medos e se posicionarem, e perceberem que tem tanto potencial de conquistar o mundo quanto os homens”, protesta.
Afivelem os cintos, o avião decola com previsão de pousar em um CD novo em março, com mais samba e groove, canções em português, psicodelia, mesclado com referências que vão de Jimi Hendrix a The Baggios.
Abre suas asas de poesia, e voa passarinho, voa.