Sábado depois da friagem. Fim da tarde, boquinha da noite. Chego no jardim do Sesc Arsenal sob o encanto da voz clara de Estela Ceregatti acompanhada por John Stuart e seu contrabaixo mágico. Homenagem a Vó Francisca. No palco, Bia Correa, poeta, com sua fala rouca anuncia a sequência das músicas. Vó Francisca está sendo agraciada pelos artistas que conhecem sua fé, que receberam suas bênçãos, e que agora devolvem um muito desse amor que Ela trouxe ao mundo como uma dádiva.
Espero não ter esquecido de ninguém, porque depois que mergulhei na pequena procissão, que levava a bandeira de São Gonçalo o santo canoeiro, violeiro, ao som da Charanga Rasqueada, fui envolvida no universo mítico e místico evocado pela Fé de Francisca. Uma fé afetiva de amor incondicional pela humanidade. Esperei a pequena multidão que se aglomerou ao redor de Francisca, e que permaneceu muito tempo, se dispersar para me aproximar em busca de uma benção. A moça que cuidava do conforto de Francisca se desculpou. -“Ela está cansada, precisa encerrar, não vai atender mais ninguém. -“Eu sou ninguém “. Respondi baixinho. -“Ninguém precisa tanto de uma benção como eu.” E me postei de joelhos frente a ela com a cabeça baixa, e ela me abençoou longamente, uma paz imensa aquietou meu espírito. Nessa hora, senti um grande amor derramado sobre mim. Ela pegou carinhosamente minhas mãos espalmadas, e beijando-me na testa me devolveu ao mundo de alma lavada. Sai dali profundamente agradecida. Com as imagens daquela fé brilhando como velas acesas na memória.
Gratidão a todos que levaram sua arte como benção a todos nós.
-“Deus te abençoe, Vó Francisca!”
Que acontecimento marcante, fiquei emocionada. Lembrei da benzedeira de Panambi e seu raminho de arruda.