A história do rock é cheia de nuances e momentos bem distintos. Da irreverência, da rebeldia, da provocação, do sexismo, da mistura com o erudito, do punk, do guerrilheiro, mix e remix com jazz, com samba, com caipira, com clássico, com o scambau, enfim, é uma história repleta de voltas e contravoltas ou revoltas. Mas também tem gente que se reúne pura e simplesmente para curtir o bom e velho rock. Ouvir tocar dançar, rolar na grama, bater cabeça, ou ler, falar, pirar, não tem limite.
Em Cuiabá, uma galera mais das antigas formou o Trio Power Rock, na guitarra alucinada de Danilo Bareiro, no baixo marcador de Jeanbass, mais a batida firme da batera de Nelson Kuchler. Se juntaram e lançaram uma proposta de se apresentar todas as quintas-feiras lá no Bar do Bigode, no Largo da Mandioca, na rua de baixo. A proposta desde o início foi de reunir os amigos e os amantes do sagrado e maldito manto do rock n roll. Foi noite a noite que as semanas e meses se passaram com as pedras rolando nas quintas. Persistente, resistente, até virar, com um público que começou pequeno e foi se firmando e ampliando, hoje está mais consistente e a quinta rock insiste: o rock não morreu!
Muitos músicos já passaram por lá e deixaram suas marcas na casa noturna que tem dia para todos os sons. Inclusive o Bar do Bigode se envolveu em recente polêmica quando abriu seu guarda chuva para um dia de sertanejo. Uma galera protestou, outros defenderam, alegando que a liberdade deve abrigar todos em seu conceito amplo geral e irrestrito. É que a galera que começou a movimentação cultural na Praça da Mandioca que culminou com a moda que se tornou a frequência do lugar se sentiu na obrigação de lutar por um espaço que seja dedicado a uma cultura mais urbana e alternativa. Como antes o lugar tinha um cunho mais alternativo, os protestantes alegaram que sertanejo já existe em uma porrada de casas noturnas e que aquela área devia se restringir ao urbano-alternativo-contemporâneo, enfim, a polêmica passou e todos se salvaram.
O Jeanbass assegura que o espaço é democrático, abrindo o leque para participações de artistas como Camila Fidélis, Charlyes Martins, Chabox, Robson Resner, Juliane Grisólia, Joelson Conceição, enfim, uma mistura com músicos e artistas de outros ritmos e pegadas mas que cabe na velha e boa mistura com o rock. Fidel Fiori, Wellington Bere, Tony Maia, Paulo Teixeira, um vasto time diversificado que embala as noitadas. Várias bandas também se apresentaram por lá, As Coronelas, Barba Rasta, Banana Chips, Metal de Papel, e outros músicos como P.Brother e Igor Carvalho. O leque é amplo e a receita é simples segundo Jean: “É só chegar, ajudar na produção, na divulgação e se apresentar, sem frescura!”
Mas o rock em Cuiabá depois de vários movimentos e cenários por décadas hoje está meio afásico, sem fome, sem novidades, sem propostas inovadoras, apesar de resistir por aí, nas noites sem fim. Isso pode ser um bom sinal, como a fera à espreita para o próximo bote. Tem rolado vários pequenos movimentos, mas que no momento não conseguem ainda agregar aquela força que já demonstrou em outras épocas. É um momento de (re)formação.
Falta aquela chama que a tudo inflamava e bradava a altos decibéis sua força que brotava do chão quente da cidade infernal. Enquanto isso o Bigode esquenta as noites de quinta com o velho gênero que aprendemos a curtir e ver muito do bom e do melhor na tri-centenária Cuiabá. Cuiahell, salve salve!
.ótimo relato, Eduardo. quero te entrevistar justamente por isso! urgente!. 😀
.grande abraço, mestre!.
Quando quiser Iuri, meu brodi!