Por Antonio Montenegro*

Lá se vão os meus vinte anos e o deslumbramento com a graduação em filosofia. Cada leitura de obra filosófica, a possibilidade de desconstruir verdades aprendidas na voz ou letra da autoridade. René Descartes em curta autobiografia “O discurso do método” ensinava a por tudo em dúvida guiado pela razão; Sócrates com a máxima ‘o que sei é que nada sei’ sinalizava que só há aprendizagem se duvidamos de nossas certezas. E Heráclito ao instituir o fogo, como símbolo do movimento e luta dos contrários, a denominada dialética, apresentava a chave para explicação do mundo, e me deixava atônito e maravilhado. Nada mais seria considerado sagrado e interditado à análise crítica. Cada novo filósofo remetia para outros campos de dúvida e aprendizagem.

Tamanho alumbramento fazia pensar que urgia socializar este tesouro. Vieram as primeiras experiências docentes em filosofia no antigo clássico do Curso Torres. Breve voo interrompido com a reforma do ensino dos militares em 1971, que retirava a filosofia da grade curricular.

No entanto, o Colégio de Aplicação da UFPE, como campo pedagógico experimental manteve o ensino da filosofia e o convite para lecionar. O sonho de transmitir aquele tesouro pôde ser retomado. Foi um semestre de muita empolgação; não tenho como avaliar o que ocorria por parte dos estudantes. Única avaliação, eram os comentários na sala de professores. Apesar de jovem conseguira dar aulas de filosofia a uma turma considerada rebelde.

No semestre seguinte a turma escolheria entre filosofia ou geometria. Imaginei a turma de geometria diminuta. No entanto, reduzida era a turma de filosofia. Recordo que no horário do recreio encontrava estudantes que no semestre anterior haviam cursado filosofia e obtido excelentes notas, felizes e risonhos. Lia seus semblantes a dizer-me que a filosofia ‘passara’. Carreguei por muito tempo um certo desapontamento. Porém, com o tempo, transformei aquele evento em experiência de aprendizagem. Pois pude constatar a significativa diferença entre transmitir informações e gerar aprendizagem. Apesar de indissociáveis são muito distintas. A informação, o conhecimento são fundamentais para a aprendizagem. No entanto, cada pessoa interioriza e processa determinada informação/conhecimento estabelecendo conexões com a sua própria história individual/coletiva que ‘independe’ do que e de quem a transmite. Por essa razão, sociedades com altos níveis de escolaridade, muitas vezes, apresentam comportamentos sociais e políticos na contramão do processo civilizatório planejado.

 

Prof. Antonio T. Montenegro (UFPE)

 

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