Por que é tão difícil aceitar e amar o nosso próprio corpo? Por que carregamos tanta culpa e vergonha? Olhar para si é doloroso. O corpo. A nossa primeira e última morada. O corpo coberto por cicatrizes e traumas que nos afetam durante toda a vida. Sentimos vergonha, culpa, insegurança. A fôrma não cabe, não nos molda. O bombardeio constante de imagens com corpos perfeitos, tonificados, duros. Mas, qual é o conceito de perfeição? Será a beleza? Será a propaganda massificada de músculos torneados e peitos siliconados? A obsessão pelo corpo o transforma em objeto de desejo, símbolo de poder. Aquilo que nunca iremos alcançar, em busca do consumo, do novo, do efêmero em uma tentativa inútil de eternizar o que é finito.

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Mas ter consciência do próprio corpo e aceitá-lo é um trabalho diário, é preciso romper com padrões, com tabus, com preconceitos culturais que nos machucam. Ficamos no escuro por que preferimos não enxergar quem somos, preferimos não ver a beleza em nós. E se jogarmos a luz? O que os nossos olhos deixam de ver? O que iremos refletir? Quais cores habitam nossa alma?

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O projeto Soturno lança as luzes sobre os corpos, os astros que nos regem, e nos despe em inúmeras cores que refletem a energia da matéria única de cada um. E é justamente deste escuro que Pedro Brites e Hélio Simi querem nos tirar. Foi a primeira vez que me deixei ser fotografada por dois amigos muito queridos, que ajudaram nesse processo de aceitação do corpo, de reconhecimento, encontro. Eles incentivam essa busca pela autoestima.

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Escuro, a luz da lua banhando a noite, escolhem cenários, mudam figurinos, nos direcionam, favorecem a libertação do corpo. Esse mergulho consciente nos movimentos lentos e em sentir o ambiente ao redor.

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“O projeto nada mais é do que a junção do noturno, as fotos devem ser feitas no escuro, sob a luz da Lua, no breu total, e a paixão pelo planeta Saturno, nome dado pelo deus do tempo, o deus que tudo recicla, gera e circula. Eu e o Hélio também estamos no retorno de Saturno, eu com 29 e ele com 28, e até os 30 anos estaremos nesse período, em que cairemos no mesmo ponto quando estava no momento em que nascemos pelo mapa astral”, contou Pedro.

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As luzes sobre os modelos refletem como se estes fossem os próprios astros. “Um planeta como Saturno, tão distante, tão longe da luz, que não emite luz própria mas recebe a luz que vem do Sol, uma luz não previsível, que não esperamos. Talvez Saturno receba outra luz que não a que recebemos aqui. Tão longe e tão escondido, o que um planeta faz nesse escuro, nesse breu todo do Universo?”, questiona.

Um mundo paralelo, uma brecha no espaço em que o momento fica suspenso. Tive essa sensação, do meu corpo passar para outra esfera, se elevar para além das nuvens, do céu, e essa leveza transcender o sentido da câmera, da fotografia. É o corpo se desprendendo da matéria pesada e se transformando em estrela, em luz.

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“A ideia é que como planetas que são complexos, os modelos possam se expressar de uma forma livre, espontânea, sem preconceitos, sem nada do que temos aqui na Terra. E tudo isso, essa junção, é soturno, que no dicionário é sombrio, meio que medonho, um tempo nublado. Algo que possa causar alguma estranheza nas pessoas, até um pouco de nostalgia. É isso que queremos causar, o tempo noturno, escuro, com saturno o deus tempo que causa reflexão e nostalgia, é o tempo soturno”.

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