Por Paulo de Tarso*
Johnny Cash nasceu no estado do Arkansas, filho de família pobre, no inicio de sua vida eram constantes as mudanças para poder fazer frente à dura realidade daqueles tempos. Com cinco anos de idade Cash já trabalhava com o plantio de algodão, cantando com sua família enquanto davam duro nas fazendas da região. Ele era muito próximo de seu irmão Jack, e um acidente marcaria sua vida prejudicando principalmente a estabilidade emocional. Seu irmão foi puxado por uma serra de madeira no moinho onde trabalhava, sendo quase partido ao meio. Jack sofreria por uma semana antes de morrer. Cash sempre falou da imensa culpa que sentia pela morte de seu irmão, pois no momento do acidente tinha saído para pescar. Tanto que sempre que podia, anos depois, falava que esperava encontrar Jack no paraíso.
Em termos musicais suas memórias sempre foram marcadas pelo Gospel. Cash começa a tocar violão e compor ainda muito jovem e muito marcado pela tragédia familiar que acabara de experimentar. Passo seguinte foi entrar para a Força Aérea Americana. Imediatamente foi mandado para a Alemanha, aliás, lugar onde compôs uma de suas músicas mais populares “Folsom Prison Blues”.
A gravação seguinte de Johnny Cash, “Folsom Prison Blues” imediatamente entrou para o Top 5 country, e em seguida, outra música também ocupa os primeiros lugares nos hits dos USA, “I’Walk the line”. Isso gerou grande comoção na Sun Records e imediatamente foi iniciada a gravação de um álbum completo. Embora vivendo um grande sucesso. Johnny vivia um problema interno em sua gravadora, pois, depois de Elvis Presley ter deixado a Sun, outro perigo corria em direção de Johnny Cash. Seu nome: Jerry Lee Lewis. Isso causou um grande mal estar, e assim, Johnny deixou a gravadora e partiu para novos desafios.
Quando sua carreira estava abraçada com grandes sucessos, Johnny viciou-se em anfetaminas e barbitúricos. Seu comportamento estranho começou a ser notado por seus amigos, músicos e todos aqueles que o cercavam. Para tentar acalmar os efeitos da droga, ele foi morar com um grande amigo em Neshville, Waylon Jennings, também dependente de drogas. Essa época marca a carreira de Johnny como totalmente fora de controle, mas mesmo assim a criatividade de Cash continuava a gerar alguns hits como “Ring of Fire”, que foi um grande sucesso alcançando o primeiro lugar nas paradas country e entrando no Top 20 de canções pop.
Durante os anos 60 Cash lançou vários álbuns conceituais. Destaque para “Bitter Tears” – que causou grande comoção na comunidade country de todo os Estados Unidos. Tudo por causa do vicio que continuava a destruir todos os valores e princípios que Cash tinha em sua trajetória. Mas nada foi mais dramático quando, em um show em Tupelo, foi acometido de um derrame e ficou um bom tempo internado.
Nova fase … Nova Vida !
Problemas pessoais, dramas familiares, e outras tragédias se seguiam na vida do grande astro da música country americana. Tudo culminou com o pavoroso desastre na casa de seu grande amigo e vizinho Roy Orbinson, em Old Hickory, quando um grande incêndio causou a morte de dois de seus filhos. Cash foi profundamente afetado pela morte dos filhos do grande amigo e definiu que, a partir dali, o uso de drogas estava fora de seu mundo, estava iniciada a longa e difícil jornada rumo a reabilitação. Trancou-se em sua casa e, com o auxilio de verdadeiros amigos, e o apoio de quem se tornaria sua esposa nos próximos anos, June Carter, deu uma virada na vida e na carreira, aliás, essa parceria nos legou uma bela música, “Flesh and Blood”, dedicada a sua amada.
Nasce o mito Homem de Preto
Nos anos 69 e 70, Cash estrelou seu primeiro programa televisivo pela Rede ABC, que abriu portas para grandes nomes da música popular americana, nomes como Neil Young e Bob Dylan. Sobre Dylan, ele sempre teve o apoio de Cash, mesmo antes de conhecê-lo. Os dois se tornaram amigos depois de morarem nas vizinhanças de Woodstock em Nova York, no final dos anos 60. Com a participação de Dylan, Cash gravou um dueto com ele em “Neshville Skyline”. Além de ter escrito o encarte do álbum que veio a dar a Bob Dylan seu primeiro Grammy. Outro grande momento de Cash foi a apresentação no show de Kris Kristofferson. Cash provocou polêmica ao se recusar a mudar um dos versos para satisfazer os executivos da emissora, preservando intacta a canção que tinha referências a maconha. “On the Sunday morning sidewalks/Wishin, Lord that/was stoned. Traduzndo: Nas calçadas das manhãs de domingo/pedindo a Deus que eu esteja chapado.
No final dos anos 70, com a revolução musical que se aproximava, vinda de várias vertentes, a popularidade de Cash começou a diminuir, mas, mesmo assim, sua autobiografia intitulada “Man in Black’ (1975), vendeu quase 2 milhões de cópias. Sua amizade com Bill Grahan o levou a produção de um filme sobre a vida de Jesus chamado “The Gospel Road” – que Cash escreveu e narrou. Ele continuou a aparecer em TV, estrelando um especial de natal na CBS durante a década 70.
Foi durante o nascimento de seu filho John Carter Cash, em 1970, que Johnny Cash estrelou seu próprio programa televisivo pela rede ABC (1969-1971). Em 1980, aos 48 anos de idade, tornou-se o mais jovem indicado ao “Hall da Fama da Música Country” – apesar desse grande sucesso, suas músicas não conseguiram alcançar o topo nas paradas americanas. O início dos anos 80 marcam uma época difícil para o “Homem de Preto”. Mesmo assim, suas turnês pelos Estados Unidos eram bem sucedidas. Foi nessas caravanas que Cash viajou com nomes expressivos da Country Music – Willie Nelson, Waylon Jennings, Kris Kristofferson, e tantos outros.
Foi também nessa época que Cash começou a participar, como ator, de uma série de filmes televisivos. Em 1981 fez “The pride of Jesse Hallan”; em 1983 estrelou o papel histórico de um xerife em “Murden in Coweta County” (filme baseado em um caso real de assassinato que Cash, por diversas vezes, tentou levar para as telas).
Mas, nem tudo era maravilhoso para Johnny Cash, pois, sofre nova recaída no vício, no começo dos anos 80. Depois de ter-se ferido no estômago, voltou a usar drogas para se livrar das dores. Durante sua recuperação em 1983, ele se tornou amigo de Ozzy Osbourne, um dos cantores prediletos de seu filho. Mas, durante uma visita a um Hospital para visitar seu grande amigo Waylon Jennings, que se recuperava de um enfarto, Cash decidiu-se a fazer um Check–Up. Constatou-se uma anomalia em seu coração e a necessidade de uma cirurgia cardíaca preventiva. Durante sua recuperação, Cash se recusou a tomar qualquer tipo de remédio, temendo se viciar novamente. Ele recordaria mais tarde que, durante o procedimento cirúrgico, passou por momentos em que enxergou a morte, vendo seres celestiais tão belos que ficou muito chateado por ter que voltar a viver neste mundo feio e sem graça.
Final de uma época – The black man…
Em 1999, Cash foi diagnosticado com Síndrome de Shy–Drager, uma doença neuro-degenerativa – diagnóstico que mais tarde seria alterado para, problemas no sistema nervoso, associados ao diabetes. Seu estado de saúde forçou a diminuir suas turnês, em 2000 ele volta a ser internado com grave pneumonia que debilitou totalmente seus pulmões.
Lançou e ganhou diversos prêmios pela sua obra, sendo, até agora, considerado o grande nome da musica country americana. Perdeu sua esposa em 15 de maio de 2003, aos 73 anos, decorrente de uma cirurgia do coração.
Desde seu inicio no Estado de Arkansas, sendo pioneiro do chamado rockabilly e rock and roll, nos anos 50, depois sua transformação se tornando um representante internacional da música country e até a reconquista da música e da fama nos anos 90 como uma lenda do “country alternativo”, Cash influenciou incontáveis músicos e deixou um trabalho igualado apenas pelos maiores artistas de sua época.
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Paulo de Tarso, pesquisador e produtor musical, jornalista e radialista, é palmeirense nas horas todas.