Há tempos não ouço nada além do som da minha própria voz e da água que desliza das torneiras ao chão. Tenho a mim mesmo e a quatro paredes, e isso é tudo. Trêmulo, anseio participar do que acontece do outro lado e então olho pela fresta do muro, pela tênue linha de luz que suporta o peso do dia. Iminência de um desastre. Fecho os olhos e me recolho em minha própria carapaça.
Num tempo suspenso como o jardim entre os cabelos, sob o pálido começo do fim de um dia nublado, contemplo-me nu em carne, amarelo e rosa, entre a luz e o nada. Esboço sorrisos e bocejos entre os reflexos que se apresentam, embora por trás da luz do reflexo tudo o que sobra sejam tralhas e interrogações e um tormento latente que jamais abandona o modo de ver as coisas. Preciso vazar.