Por Gilda Balbino
O que é importante para um escritor de livros, poemas, crônicas, artigos: a inspiração ou o trabalho? Acho que é o trabalho, muitas vezes, chato. Porque as ideias nem sempre são escritas com facilidade. Tenho na cabeça o plano do que vou escrever, contudo, vou elaborando as frases, apagando, reescrevendo, nem sempre produzindo o efeito que desejava.
O trabalho braçal nem sempre tem a intensidade ou acompanha a velocidade das minhas emoções. É evidente que sem as emoções a arte não existiria porque ela atravessa todo o processo de criação.
Ao lutar pelo meu sustento me entrego num estado de exaltação e esse estado de espírito é a condição permanente, primeira e necessária que me leva a perceber as sensações e os acontecimentos à minha volta, deixando-os penetrar fundo no meu espírito para depois esquecê-los, dissolvendo-os num fluxo de percepções e memórias, ressurgindo futuramente numa emoção livre, longe das minhas lembranças.
A tentativa de compartilhamento das bagagens, a submissão à exaustão dos projetos, perdendo-se absortos nos ecos do outro, no medo de dissipar as brumas da alma. Para tal teria que estalar o ar que precede as tempestades. Encantamento reconstituído, entrega impetuosa inundando turbados discursos amorosos, privados do furor e arrebatamento pelo distanciamento da pandemia, tornando-se corpos rotineiros, sem palpitações, sonhos que já não se bastam.
Gilda Balbino é advogada e assessora parlamentar, especialista em gerência de cidades pela FAAP.
Gilda Balbino. Excelente abordagem sobre o processo de criação. Eu não consigo fazer isto com as poesias, elas literalmente despencam do nada dentro da minha cabeça.