Gosto muito de conhecer as cidades andando a pé. Certa vez, e isso faz mais de trinta anos, saí andando desde a Vila Yara, fronteira à cidade de Osasco, até o Vale do Anhangabaú, centro nervoso da cidade de São Paulo.  Foi daquelas tardes em que nada havia para fazer e resolvi fazer uma “caminhadinha”.

Lembro apenas que passeei um pouco pelo Shopping Continental, fui descendo as avenidas Vital Brasil e Corifeu de Azevedo Marques, não me lembro se era a ordem correta, passei pelo Butantã, alcancei o Shopping Eldorado, na Eusébio Matoso, depois de ter atravessado a marginal. Daí para a Faria Lima, Nove de Julho, passando pelo túnel até ganhar a Praça Ramos e o Vale, de onde embarquei de volta, dessa vez de ônibus, por volta das 17:30. A caminhada começou por volta das 13:30.

Acabo de ler o livro “A linha amarela do Metrô”, de Viviane Santyago e vou me lembrando desta e de outras idas à terra da garoa, nesses tantos anos de vida $500 payday loan . Penso na beleza da Estação da Luz, sobretudo ao conhecer o senhor Venâncio e seu natal fora de época. Para que tanta pressa para se chegar ao túmulo, não é mesmo? Essa “velocidade do homem de terno que desce a escada rolante como se os motores dela estivessem nele” (p. 11).

Os metrôs, como os trens da CPTM, guardam muitas surpresas e nem sempre tão boas. “Um rapaz de touca e casaco marrom se aproxima, pergunta pelas horas” (p. 17). Há muito de inusitado em qualquer percurso. Mas também há coisas que se repetem há anos, décadas, milênios e nada parece mudar. “O rapaz que cede o lugar para o pai é o mesmo que puxa minha bolsa ao sair” (p. 24), o que reforça a tese de que ninguém é totalmente bom, ou mesmo ruim.

Não é fácil para ninguém andar sempre na linha. “A linha, a tênue, não a Amarela, a tal que João me falou, é fina demais pra caber favelado com sonho de letrado” (p. 28). O sonho de cada um faz parte do tal percurso. Alinhados que estamos para buscar a felicidade onde o que existe é o percurso, a busca. “Na porta da geladeira, a foto de Marcelo. Que fique ali, até esfriar” (p. 43).

Viviane Ferreira Santyago

O livro de Viviane é de contos, mas poderia se rum romance, pois as unidades têm sentido próprio, embora não único. Cada personagem é portador de uma história, cheia de similitudes e dotada de sentido real. “Ele ainda não sabia nada da vida, queria mesmo ser meu amigo íntimo, eu não tenho tempo, nem amor, nem diálogo suficiente para votar a ser uma pessoa social” (p. 76).

Parece não haver mesmo tempo ou espaço para intimidades ao longo da linha. Mas há, como também muita perturbação. “Ao longe vê sua mãe chegando, nas mãos ela carrega sua redenção: O laudo” (p. 79). Nem todos são capazes de justificar o mal que praticam. Nem todos tem o passaporte para a insanidade.

A primeira vez foi próximo à sua casa, (p. 95). A segunda vez foi no banheiro de uma boate, (p. 95). A terceira vez foi dentro de sua casa, (p. 96). Algumas dezenas de vezes foi dentro dos trens e ônibus, (p. 96). Ana desistiu de viver já faz um bom tempo, (p. 96).

Viviane é autora de sete livros premiados, dos quais destaco “Pó” e “As Dez Marias”. Guerreira, como muitas de suas personagens, chama a atenção pelo registro literário autêntico. Amarelo significa atenção e cada linha de sua autoria provoca pelo simples fato de acrescentar algo de especial à escrita feminina. A luz amarelou para quem não conhece seu texto. Sempre é tempo de se preocupar com o entorno. Está aberto o sinal. Pareço ainda ouvir o apito do trem.

REFERÊNCIA

SANTYAGO, Viviane Ferreira. A linha amarela do metrô. Jundiaí, SP: Telecazu, 2018.

 

 

 

 

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Ao completar vinte anos da publicação de meu primeiro romance, fecho a trilogia prometida com este volume. Penso que esse tempo foi uma graduação na arte de escrever narrativas mais espaçadas, a que se atribui o nome de romance. Matrinchã do Teles Pires (1998), Flor do Ingá (2014) e Chibiu (2018) fecham esse compromisso. Está em meus planos a escritura de um livro de ensaios em que me debruço sobre a obra de Ana Miranda, de Letícia Wierchowski e Tabajara Ruas; o foco neste trabalho é a produção literária e suas relações com a historiografia oficial. Isso vai levar algum tempo, ou seja, no mínimo uns três ou quatro anos. Vamos fechar então com 2022, antes disso seria improvável. Acabo de lançar Gênero, Número, Graal (poemas), contemplado no II Prêmio Mato Grosso de Literatura.

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