A cultura hip hop está em plena ascensão e expansão em Cuiabá, tendo como carro chefe o rap. O início dessa manifestação cultural se deu lá pelo início dos anos de 1990, primeiramente com o street dance, um dos quatro elementos do hip hop. Num segundo momento os primeiros sinais do rap e em seguida surgiu a visualidade capitaneada pelo grafite, expressão artística que vem ganhando as ruas da capital mato-grossense com força e representatividade. Mas o rap vive um momento bastante significativo nesse recorte chamado de cultura urbana com o surgimento de vários trabalhos, entre grupos e indivíduos, que vem conquistando adeptos e se afirmando no cenário local. Dentre esses trabalhos é importante ressaltar que as mulheres têm ganhado espaço e se destacando num território onde sempre foram coadjuvantes e vítimas de um desmesurado machismo e sexismo que predominavam no meio. A reação feminina vem num momento histórico importante de afirmação do espaço da mulher nas várias expressões da arte, da cultura e de toda a produção social.
Um dos caras da velha escola que vivenciou vários momentos dessa expressão e que hoje é aliado das minas é o DJ Taba, parceiro e companheiro nessa luta de emancipação e autonomia que elas vem empreendendo. Taba começou cedo no hip hop, com o street dance, ainda um guri de 11, 12 anos que ficou fascinado com aquele momento e direcionou a vida para expressar sua visão de mundo, seu papel como cidadão em busca de um mundo melhor. Passou a compor letras e desenvolver sua música como um meio de vida e de expressão de sentimentos. Tornou-se DJ, MC, produtor, agitador cultural e conseguiu se afirmar num cenário árido e difícil, onde o artista precisa se desdobrar para conseguir bancar sua própria vida. Faz bailes, festas, aniversários, lida com diversos tipos de público e com isso alargou sua visão musical se abrindo para compartilhar outras experiências. A partir daí ampliou o universo musical e hoje parte para uma carreira solo com novas composições, além de produzir outros trabalhos onde desenvolve um rap de qualidade e misturado com vários ritmos, que vão do samba, ao reggae, ao rock, pop, elementos regionais, enfim, dando uma cara mais universal ao rap. DJ Taba afirma que na música as fronteiras já não são tão definidas, são borradas, se misturam com elementos de todos os lados.
A música Sonho Latino embalada pelo clipe recém lançado do DJ Taba é um canto de evocação do desejo revolucionário, amparada na figura icônica de Che Guevara e os sonhos de uma América Latina desenvolvida. Sem as diferenças que aniquilam a possibilidade do outro, sem corrupção, sem fome, sem concentração de renda, sem latifúndio, com pessoas plenas em sua capacidade de desenvolver suas potências. A pregação revolucionária é uma constante em seu trabalho e ele se vê como mensageiro da revolução pela linguagem, pela poética, pela sensibilidade do outro que pode ser despertada daí.
Muito bom conversar com o Taba e ver que seu trabalho evoluiu tanto e de como ele tem uma visão aberta para a nova geração de rappers. Ele busca essa interação criativa. Tem feito trabalhos em parceria com uma dessas vozes mais vibrantes do rap mato-grossense contemporâneo que é a PachaAna. Vê com entusiasmo a movimentação dessa nova rapaziada do hip hop que vai vencendo preconceitos e conquistando espaços nas ruas e nas casas noturnas da cidade, além de visibilidade crescente na mídia e principalmente na internet.
Um dos eventos realçados foi o Slam do Capim Xeroso que já vai para sua quarta edição e que tem revelado novos poetas abrindo espaço para novas vozes. Cita grupos emergentes como o Pavio Curto, cita Várzea Grande com o trabalho consistente e resistente do Conduta do Gueto, Kessidy Kess, que vem abrindo fronteiras Brasil afora, o papel da mídia como indutora da cultura, a responsabilidade dos governos com as políticas públicas, o momento político delicado que vivemos no Brasil e no mundo, enfim foi um papo de animação e provocação, que bota a gente a acreditar que ainda resta alguns fios de esperança nessa porra toda. Continuar sonhando é preciso, a América Latina não morreu, a luta nunca vai parar, sem perder a ternura jamais.