Por Alessandra Marimon*
A atual seca no Cerrado inunda meus olhos de lágrimas. Estamos na época das queimadas e o que era pra ser um fenômeno natural tem se intensificado cada vez mais pela ação desenfreada do desmatamento, financiado pelo agronegócio e pela falta de políticas públicas adequadas.
A cada ano batemos um recorde diferente de elevação da temperatura da Terra, mas tem gente que ainda diz que aquecimento global é besteira. Aqui no Cerrado o calor também se intensifica, assolando o céu, coberto de poeira e cinza, enquanto o fogo dizima plantas e animais, provocando um colapso nas populações e um intenso desequilíbrio ecológico.
Uma das maiores biodiversidades do planeta e um verdadeiro distribuidor de água para as principais bacias hidrográficas do país grita por socorro. Mas os ouvidos parecem não ser suficientes para escutar e frear o problema. Segundo uma matéria do O Eco, se contabilizarmos todas as áreas protegidas do Cerrado, a soma não passa de 8%, sendo que a maioria é de Áreas de Proteção Ambiental (APAs). E eu só consigo lamentar, porque as mudanças climáticas já mostram sua força.
Me sinto tão vulnerável e fragilizada quanto o próprio bioma. Nasci e cresci rodeada por calangos, mucuras, ipês, ingás, cajuzinhos, tatus-canastra e rapozinhas. Mas também convivi em um estado onde ser fazendeiro e ter extensos pedaços de terra era sinal de grandeza, status social.
Agora esses mesmos também sentem na pele o que é perder lavouras inteiras. E todos pagamos pelas consequências sociais, ambientais e econômicas que nós mesmos contribuimos pra causar. Queria que as pessoas parassem pra refletir, saíssem dessa zona de conforto do individualismo alienante e pensassem em ações coletivas.
Consigo sentir a dor e o sofrimento de cada ser vivo, de cada indígena, ribeirinho, assentado ou animal que vagueia pelas matas sem rumo, atordoado, que morre de fome e sede porque simplesmente não chove.
Tá seco. Tá quente. E tá cada vez pior. Sinto falta da chuva, do orvalho pela manhã e das nuvens no céu. E eu só queria poder ajudar de alguma forma. Porque o Cerrado é parte de mim. O Cerrado ambém sou eu. E quando ele chora, eu choro junto.
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*Alessandra Marimon é jornalista, escritora e feminista. De alma flutuante e sem fronteiras, enxerga o mundo como sendo o seu país.