entre oito e dez anos de idade, ou desde que me lembre, meus pés voavam na corrida de medo de ser alcançado por algum careta.
com suas máscaras assustadoras davam carreira na gurizada. lembro certa vez que cheguei muito perto de um deles, esse era o desafio, diante dos olhos arregalados dos amiguinhos em volta, quase toquei nas costas de um mascarado vestido com roupas de saco de estopa. ele carregava um sino amarrado na cintura daqueles que ficam no pescoço dos bovinos. tudo sob o batuque seco de taróis que repicavam pela tarde quente. era carnaval.
o careta se voltou para mim, de repente, saltei para trás e escapei por um triz, ele disparou correndo atrás para me alcançar, com um chicote na mão a estalar o ar.
escapei.
virei herói da garotada naquele momento, estufei o peito e disse, duvidosamente: – da próxima vez, encosto a mão nele, vocês vão ver!
bravata. bravatinha. o medo era insano e fazia palpitar o coração que queria sair pela boca. nunca mais, nunca mais.
de lá, para cá, os Caretas cresceram e apareceram. romperam barreiras e fronteiras. eles são a expressão mais brutalmente genuína da criação popular e periférica. criaram eternidades, se tornaram senhores absolutos das ruas nas festas carnavalescas em Guiratinga que sempre foi famosa pelos seus carnavais.
o imaginário baiano e nordestino produziu coisas interessantes na pequena cidade, onde nasci. eram comuns as brincadeiras de passar medo, histórias de assombração eram contadas nas ruas onde a noite era ponto de encontro dos moradores da rua, todos se ajeitavam em suas cadeiras nas portas das casas, a luz se apagava as nove da noite, brincávamos até no limite da hora, ouvíamos rádio, nos comunicávamos afetivamente e efetivamente. era uma festa que não esqueço nunca.