Nascida em 1990, a jovem japonesa Seiran Tsuno é formada em enfermagem. Diz: “tive muita luta e stress quando eu era estudante de enfermagem, o que me levou a fazer “shiromuri” (uma subcultura japonesa baseada em pintar o rosto de branco), me vestia com roupas em excesso e saía. Foi minha primeira experiência com moda me salvando na vida.”

Por seis anos trabalhou em um hospital psiquiátrico e, paralelamente, estudava na escola de moda de Tóquio “Coconogacco” (que significa escola da individualidade), fundada em 2008 por Yoshikazu Yamagata. Essa escola, eu diria excêntrica, tem um modelo inovador e revolucionário que rompe com a cultura do coletivo, sem se limitar às técnicas ou metodologias existentes nas confecções de roupas, prioriza o pensar aventureiro e livre, apoiando e estimulando a experimentação, a originalidade e a criatividade de seus alunos e futuros designers de moda.

Em 2018, Seiran Tsuno foi a finalista do ITS (International Talent Support), uma plataforma criativa de moda na Itália que apoia jovens talentos.

Desde o início de estudante de moda, a sua vivência no hospital psiquiátrico aparece como uma inspiração metafísica no seu trabalho com moda, “minha visão pessoal vem da minha solidariedade com as pessoas que foram salvas por acreditarem em um mundo invisível, e por se comunicarem com um mundo em que a maioria de nós não consegue ver.”

Baseada na crença japonesa de capturar espíritos, sua técnica é fazer vestidos com canetas 3D, em vez de usar tecidos, começou a experimentar as canetas coloridas. O processo é demorado, primeiro faz um molde para definir o volume, depois colore com a caneta 3D, espera secar, retira o molde e surge um incomum e delicado vestido, ou seriam etéreas armaduras tecnológicas? Com características futuristas e cores neon, a singularidade de suas peças impressionam porque trazem o conceito de uma experiência “fora do corpo”, espiritual, uma forma de comunicação com o mundo invisível. São peças inclusivas que podem ser usadas por qualquer pessoa. Algumas tem somente a parte da frente, como o que sua avó (sua paixão, musa e modelo) foi fotografada usando-as numa cadeira de rodas.

Quando ela fala que pintava o rosto de branco, se vestia com excesso de roupas e saía, que essa primeira experiência com moda a “salvou”, me despertou um sentimento filosófico, seja na busca pela sensibilidade perdida, no caminho traçado da morte para a vida ou através dos nossos sentidos mais profundos, podemos abrir caminhos e renovar o campo do possível, do real, e, que através da capacidade de amar (seja o que for!), encontraremos nossa própria verdade no mundo. Sentir que a vida pode ser mais, em toda a sua amplitude (?) e complexidade.

“Quero viver enquanto estiver acesa, em mim, a capacidade de me comover diante da beleza. Essa capacidade de sentir alegria é a essência da vida” – Rubem Alves

3D é um mundo já conhecido em muitas áreas, como na música, no cinema, na arquitetura, mas na moda é algo pouco explorado. É um novo espaço/categoria (sem limites e barreiras) para os novos artistas expressarem/experimentarem/mostrarem suas visões criativas. É também uma janela do futuro para a moda, e quem sabe o alcance/adição de um novo frescor ao “velho sistema”?

E quanto à sustentabilidade já existe no mercado o polietileno verde (a planta de plástico verde), que é feito à partir do eteno obtido da cana-de-açúcar. Seu grande diferencial é a contribuição para a redução da emissão dos gases do efeito estufa na atmosfera, já que captura gás carbônico durante o seu processo produtivo. É cem por cento reciclável.
Nunca foi tão urgente usar a criatividade e inovação a favor da sustentabilidade na moda (já escrevi muito sobre essa nova forma de interação com o meio em que vivemos aqui no Cidadão Cultura).

Vamos nessa, juntos!

“Decifra-me, mas não me conclua, posso te surpreender!” – Clarice Lispector

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Glenda Balbino Ferreira é pianista, publicitária, curso de moda incompleto, empresária dona da camisetaria VISHI e mãe de Theo Charbel, 55 anos.

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