Ser criativo é inerente ao ser humano. É óbvio? Também acho, mas por alguma razão somos convidados a celebrar isso, ou refletir sobre esta condição essencial que impulsiona os seres humanos para avançar sobre todas as coisas, dominar, domar, moldar, transformar o estado de coisas. Para o bem e para o mal, o impulso leva a transgredir e faz pulsar. Avançamos, a despeito de julgamentos, uma obrigação que está na base de qualquer movimento, seja físico, seja psíquico.
Não sou chegado a comemorações disso ou daquilo regados a dias instituídos em nosso calendário. Tem dia para tudo e a que serve isso? É como se fosse uma forma de lavar as mãos e botar termo a nossas consciências contaminadas pela culpa. Uma valorização daquilo que serve para aliviar nossas faltas, criamos o dia de tal coisa e pronto, prestamos contas de nossos vazios.
Em 2017 o Dia Mundial da Criatividade entrou para o calendário oficial da Organização das Nações Unidas (ONU), com a intenção de reforçar e celebrar a importância da criatividade e da inovação para o desenvolvimento sustentável, reunindo atividades em mais de cinquenta países.
No Brasil, o Dia Mundial da Criatividade começou a ser organizado em 2014 pelo psicólogo Lucas Foster, idealizador do Prêmio Brasil Criativo e um dos principais nomes da economia criativa no Brasil.
O grupo de teatro Tibanaré, ganhador do Prêmio Brasil Criativo em 2016, foi escolhido como agente local para produzir o evento, concomitantemente a mais doze municípios brasileiros. Cuiabá entrou pela primeira vez nesse circuito que celebra, debate e coloca a criatividade no centro da atenção. Soube que em São Paulo já está se tornando um evento valorizado e fortalecido. O grupo escolheu, selecionou artistas locais representativos de uma cena cultural que cresce muito em Cuiabá e Mato Grosso. Ao ser convidado, por Fernanda Gandes e Jefferson Jarcem, para mediar o encontro desses artistas, optei por aceitar e por conduzir o encontro de forma cordial. A fama de polêmico e de posições muitas vezes antipáticas gerou uma expectativa falsa de que eu seria um provocador cruel, senti isso nas pessoas e recuei, preferi deixar rolar na maior leveza. Grupo Flor Ribeirinha, Clara Azevedo, do estúdio Claz de dança, o multiartista Luiz Marcheti e o cineasta Bruno Bini foram os escolhidos para falar de seus trabalhos. Foi interessante ouvir a fala de cada um, seus processos criativos e posturas diante do papel da arte e da cultura. O que me levou a produzir esse texto abaixo, como uma espécie de olhar livre sobre o ser humano e seus desafios face a um mundo de coisas que obriga a criar para não nos tornar vítimas de nossa própria condição.
Atividades criativas: um olhar
A gente nasce para criar e morrer
Quando morremos criamos memória
Criamos contra e a favor da natureza
A partir de
Condições adversas controversas
Versos e contra versos
A gente morre e fertiliza novas criações
E somos ofertados como um corpo de memória
O que fica é sempre na perspectiva do outro
Criamos como resposta para um mundo cruel
Para quê?
Para quem?
Ser criativo é uma condição imposta e inerente
Na arte
Na ciência
Na impaciência
Na educação e na arquitetura dos sentidos
Criar, em suma, é o suprassumo da existência
Como respirar pirar transpirar
Fomos obrigados a criar as condições para (sobre)viver
Isso nos diferencia e a partir daí perdemos a inocência
A natureza e o paraíso.
Somos filhos do movimento
Precisamos do vento batendo na cara
Mover se mover
movimentando coisas a todo instante
Somos filhos do átomo
do universo em si
De menor e de maior
Somos musicais
E estamos sempre em queda
No movimento de tudo.
Chegar a deus é chegar na estática da perfeição
Quando atingirmos a perfeição tudo para
A roda para
E seremos vítimas do mais absoluto silêncio
Ao perder o paraíso
tornamo-nos máquinas
esquizofrênicas
violentas e predadoras
Criamos arte para não morrer de tédio
Criamos artifícios por que perdemos a natureza
Ou por que
a superamos operando falsas verdades
Nem pau nem pedra
Quebramos o átomo
Criamos pixels
Luzinhas de estimação
Percebe?
Cada qual em seu pedaço
No seu corpo
Cada corpo se move
Na sua própria forma de existir
falou e dizeu!! o negócio ta tão brabo pros criativos que criaram esse o dia da criatividade. que falata de criatividade.