Por Túlio Paniago Vilela*

Grilos, gritos e gralhas

Infestam cabeças

São cabaças ocas

Lábios, línguas, salivas

Lascivas e espessas

Copulam nas bocas

E o verso, quando não ou quando sim, a depender da vista do cego ponto, causa um desencontro com outro verso. E a poesia, quando ninguém a ela se entrega, se desintegra, então poema se desentrosa e tudo se acaba em prosa.

Ora, ora, ora, ritmo não é rito, poesia não é reza, padre não é e poeta e prosa não é sermão. Em verdade nem vos digo da fadiga que me causa religião. Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e serei salvo…

Sêmen.

Deixa que os mortos enterrem seus mortos. E quanto aos corpos cujos membros tortos capengam, deixa que subsistam com suas estruturas corroídas mantidas por enxerto. Seus passos lentos dissolvem a pressa enquanto traças destroçam a forma de tudo que é matéria, assim é a existência insossa de seres que esboçam uma verborragia prosaica, ao ponto que toda poesia míngua e, ao invés de saliva, lábios e boca, se reduz a uma arcaica língua.

Forma, conteúdo e estrutura.

Estrutura forma

Conteúdo

Contudo

Conteúdo reforma

Estrutura?

Pouco importa.
Só importa é que já não importa o que importa.

Como o que começa ao inverso sem saber se é início ou fim; um verso, uma mera linha que não se acaba quando se acaba de dizer o que queria, é que nunca se sabe o que dizer quando se diz e, ainda que soubesse, jamais saberia se a comunicação de fato houve, pois o que se diz difere do que se ouve.

Palavras são reféns de significações vagas. Por isso formam orações sem fé para deuses mortos. Palavras invejam gestos, olhares e grunhidos, pois estes pariram a comunicação e a linguagem. Oratória não é arte, é artimanha, de modo que a essência da linguagem verbal é a confusão.

Torre de babel via Iphone
Nem todo fato consumido é de fato consumado
Aversão à conversão de versões diversas

Deveras prosa e verso não são inverso
Primeiramente, não há o que temer
Fora isso, tudo é orgia e sexo

Poesia prosaica
Prosa poética
Arcaica é a estética

É momento de dizer quando não há o que calar?

Calabar!

Elogio da traição pós moderno
Excesso de ternos, pouca ternura
Corte de gastos, tanta gastura

Temer, Trump, Putin, May e Macri
Substantivos próprios, tempos sombrios
Direitos privados, ordem pública
De pernas pro ar, mundo ao avesso
Sangue coagulado nestas veias abertas
Líder católico mais progressista que líderes de estado
Surrealismo não tem mais espaço
Quando realidade é tão absurda
Cega muda moralizada esterilizada
Cercada por muros e crenças
Que não lhes protegem
Do medo e do ódio
Que negam, mas sentem.

Nos resta, além de atos, a confusão das palavras
Afinal, que sentido têm senão de confundir
Esse tempo retrógado e hostil?
Essa gente enferma
Acometida de raiva e incompreensão?
Então que se confundam – palavras e pessoas – em prosa e verso, que se fecundem confundidos num sexo sem culpa.
Confesso que já não consigo me manter sóbrio.
Vício?
Quem dera fosse…
Falta motivos
Pra ficar lúcido
Nesses tempos
Sem libido
Então envelheço
De forma precoce
Deforma
Tudo ao redor
Soa como música
Sem nota
Sinto dor no dorso
Peso da existência
Ausência de tudo
Nesses tempos
Sem gozo

*Túlio Paniago Vilela é jornalista, escritor, da cidade de Mineiros,
e vive em Cuiabá desde 2010.

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