eu sou feita dos poemas
que não escrevi
paridos em noites insones
entre um suspiro e outro
com a potência da vida
que nasce e morre e renasce
entre um suspiro e outro
eles não se foram
não são palavras ao vento
estão em mim
vivem aqui
nessa pele
nesse corpo
escritos invisíveis
que carrego
sem lembrar
completam essa existência
e sua efemeridade
entre um suspiro e outro
invoco imagens
chamo força
assopro pro alto
como que devolvendo ao mundo
aquilo que o mundo me deu
e eu como um deus
crio outros mundos
não de barro
não de papel
mas de palavras soltas no ar
emudeço
e elas saltam aos meus olhos
independente da minha vontade
sou apenas veículo
sou apenas passagem
entre um suspiro e outro
sou apenas verbo