Por Naira Iasmim
QUAL O INTERESSE BOLSONARISTA PARA O DESMONTE DAS POLÍTICAS SUBSTUTIVAS AOS MODELOS MANICOMIAIS?
Pensei em começar este texto relembrando o processo do que foi e é a Reforma Psiquiátrica, de como foram pensadas e articuladas as políticas para não privação do sujeito do convívio social e acima de tudo e qualquer outra justificativa, como oferecer um tratamento digno, que assista a população que carece de um sistema que auxilie e o vincule a um lugar social. Um lugar de direitos. Mas, o motivo é tão óbvio que me responde a pergunta que fiz: interesses privados.
Democraticamente jovens, nós Brasileiros, e mais especificamente os atores da saúde, como é neste caso, viemos criando estratégias que possibilitem pensarmos serviços que auxiliem na saúde de forma efetiva. Além da complexidade que sugere este sistema substitutivo às formas asilares de tratamento, há neste serviço o início de um trabalho que nunca está pronto. É necessário que ele caminhe, e não, nunca, retroceda.
A ferida que a perversidade higienista da presidência vem afetar é exatamente os programas que dão acesso aos sujeitos marginalizados pela estrutura neoliberal que vem devorando todas as nossas bases democráticas, de acesso e equidade.
O Consultório de Rua, um desses serviços que está prestes a acabar é a possibilidade, por exemplo, de conseguirmos assistir e tratar a população em situação de rua, que estigmatizada, antes jogadas nos porões de alas pisquiátricas de presidíos, esquecidas e longe, muito longe de qualquer reinserção social.
Neste mesmo lado, a internação compulsória, geralmente acionada pela ação ofensiva da policia militar, e incentivada pela estratégia mercadológica e doentia de pensar a saúde criando leitos e mais leitos, lógico, para interesses privados.
É possível fazer saúde sem criar hospitais e é disso que se trata.
Não. A luta não acabou.
Psicóloga por formação, Naira Iasmim, vem ampliando sua atuação para além do consultório, possibilitando um espaço de expressão com propósito de desenvolver o potencial criativo através da música, literatura e pintura. Dedicada a encontrar pontes de conexão que evidenciem a expressão como marca simbólica de um existir social. Idealizadora do @samambaiacoletivo uma comunidade destinada a enaltecer e conectar mulheres criativas e empreendedoras.
