a garoa fina desce e
embaça minhas
lentes,
a noite me faz cinza,
são paulo e essa sina de
enxergar poesia
no concreto
do mundo
o muro
o rumo
A lágrima retida no canto do olho
e na mente ressoa os versos de Piva
o seu amor esquecido pelas ruas
da cidade
“O infinito na palma da minha mão vazia”
O que há por trás dessas palavras que divagam
devoram
como metralhadoras
em seu alto de glória
ferindo inocentes
e tiranos
seus tiros de pólvora entre os dedos
na esquina da são luís, um prédio com o nome de mario de andrade
abriga
livros e poemas e histórias
Na praça da república,
no parque do ibirapuera,
“Eu sou a solidão nua amarrada em um poste”
A lágrima retida no canto do olho
já não enxergo a poesia,
eu a sinto
como o toque frio da garoa
me lembra que esses pés
percorreram
caminhos demais
Estou cansada de não ser palavra
fico na rua da abolição
Atravesso sete andares em um elevador antigo
As bobinas rangem ao som de metal e ferro e borracha
Portas se fecham e se abrem
O céu aberto na rua Lina Bo Bardi
Oficina voltou mas nunca houve
corte
62 anos de pulso ininterrupto
O teatro escancara o portão de ferro
carros passam sob o viaduto
Pessoas nascem e sonham e morrem
“Minha memória quebrada não pode aceitar amor”
Os versos de Piva ressoam na minha mente bagunçada
Talvez eu nunca escreva sobre
são paulo com tanta fúria e paixão
No vão dos dedos escorre os sentidos que busco
mas nunca alcanço
Meu coração dilacerado pela poesia
Eu a sinto; eu a sinto,
Mas quando tento derramar para o papel
me vejo crua;
Não vou escrever como Piva
Preciso sentir o peito aberto
vazando cimento
de um coração
Petrificado