Por Gilda Balbino
As cidades são um quebra–cabeça secreto, com regras absurdas, construída de sonhos, desejos e medos além dos grandes interesses imobiliários. E aí vem essa pandemia, fio condutor secreto, com regras absurdas e resultados catastróficos.
De tudo isso, aproveitamos as respostas que dão às nossas profusões de imaginações coletivas e politicas que escapam à captura da representação e seus limites inabaláveis. Esse talvez seja o desafio mais arrebatador da nossa geração nos dias de hoje.
Sonhamos muito nesses últimos anos: apenas animados pela esperança “o que temos pra hoje” ….amanhã veremos…. Somos frutos de uma cultura política de centro-esquerda, extremamente combativa, questionadora da representação política até então predominante – aquela dos pactos entre as elites. Políticas de bairros, de periferias, de mulheres, dos assentamentos e invasões rurais, do sindicalismo emergente em todo o país, do orçamento participativo, dos que não eram ouvidos, representados e que começaram a falar.
Atualmente somos dirigidos através de uma política personalista e concentrada de direita. Essa pandemia voltou a mobilizar a população não em torno de temas arcaicos, inconstitucionais, verdadeiras aberrações políticas e jurídicas a que são manipulados a participar. Pensamos hoje e refletimos sobre qual aprendizado poderemos alcançar com essa tragédia, aprendizado de solidariedade, conhecimento científico, consequências da violência cometida contra o meio ambiente pelos grandes exploradores das riquezas da natureza.
Queremos e vamos construir gestão comum da saúde pública, política de moradia, regularização e crédito fundiário, ocupação de espaços públicos políticos, com plataformas abertas, com participação popular, pensando e desejando uma política de construção da cidade, que proporcione longe do ideário neoliberal uma profusão de vínculos fortes, políticas fraternas, que produzam afetos, composições.
Queremos levar a vida cotidiana para o centro da política destruindo as fronteiras que separam os representantes dos representados, produzindo uma nova urbanidade, igualitária, produtora de conexões com as ruas, agentes do municipalismo participativo do “fazer a cidade” ativa, renovada, protagonizada por todos nós.
Esse novo mundo após essa pandemia já está sendo gestado, utopias urbanas, movimentos contra os partidos e organizações burocratizadas, representações descolonizadas com poder distribuído e compartilhado. Vamos construir um novo mundo, uma nova história, uma cidade fraterna, humana, com um espaço urbano que se transforma e se resignifica. Com as eleições que se aproximam é isso que esperamos.
Gilda Balbino é advogada e assessora parlamentar, especialista em gerência de cidades pela FAAP.