Estou aqui matutando, relembrando da figura do Rodivaldo. Seus destemperos, sua boca solta e fartura de palavrões entre enunciados inteligentes, brilhante parceiro de mesa de bar. Não convivemos muito, o suficiente. Não era dos meus melhores amigos, mas isso não importa. Importa é que o cara foi uma puta figura. Um puta dum polemista e brigão. Gostava muito dele no palco. Vocalista dos bons, dos fodas. Presença marcante no underground cuiabano.
Jornalismo cultural de Cuiabá é farto de gente boa, isso faz tempo já, não vou citar nomes, mas o Rodi estava sempre lá.
Escritor ainda tateante, eu diria, aliás como todos os outros: seguimos tateando em busca de sentidos através das palavras. Queria ser reconhecido como escritor. Era escritor, pois de fato escrevia. Mas acho que ficou um buraco aí. Vejo que sua contribuição é ainda maior no jornalismo cultural daqui de Cuiabá. E também no delírio de anos que ficou amadurecendo até conseguir reunir uma super turma de artistas e poetas, escritores, estudiosos, e criaram um dos maiores veículos de cultura digital por aqui, a Ruído Manifesto.
Fui editor de cultura na Folha do Estado por um ano e Rodivaldo ainda estava lá quando entrei, mas para variar, logo estava saindo, brigando com meio mundo. Soltava o verbo, metia a boca, sem dó, em tudo e todos. Tentava contemporizar as vezes, calma, Rodivaldo, ele, calma porra nenhuma e tascava hahaha.
Lembro de um episódio recente na Rádio Assembleia onde fazemos um programa que viaja por uma infinidade de temas, do smartphone à viola caipira, do computador, ao ritual indígena, do rock ao samba e por aí vamos (fusãopontocom) e Rodivaldo, uma vez participou e soltou o verbo, meteu o pau em tudo e todos, soltou um monte de foda-se! E outras mais, radical mesmo. O meu parceiro de programa, o Paulo de Tarso ficou louco, me olhava atravessado, resmungava, não conseguiu absorver aquilo, fiquei rindo, pensava: ao vivo é isso, a gente nunca sabe a reação que pode vir de lá. Paulo depois me confessou que quase deu um jeito de interromper o programa, quase morri de rir.
Outra memória que ficou bem marcada foi quando Joe Fagundes ligou pedindo minha casa emprestada para set de gravação de entrevistas com mais de dez pessoas, no final acho que tinha dezoito ou vinte pessoas espalhadas pelo quintal de casa. Foi um dia inteiro regado a muita cerveja e papo sobre a história do underground e do rock cuiabano e mato-grossense. A gravação era do documentário “GTW – entre mortos e feridos salvaram-se quase todos”. Pra variar, Rodivaldo, com uma memória musical impressionante, deu um show na gravação. O documentário será lançado logo mais nas plataformas digitais. Você poderá assistir, a presença dele foi marcante no documentário. Figuraça, muito perspicaz! Crítico ferrenho dos modelos de vida consumista, vazia, de exploração, amava a arte, a literatura, era leitor voraz, uma enciclopédia roqueira na bagagem. Um cara complicado, querido e genial!
Dia inesquecível aquele em seu “quintal”.
Boas palavras, Ferreira. Rodivaldo era turrão, prolixo. Muito inteligente. Mas um cara de bom coração. Sem dúvida, uma pessoa de bom coração. Um amigo muito querido.
Que perda! Puta cara inteligente, sarcástico e talentoso…