Conta antiga lenda, que no começo do mundo, era a Terra o mais belo dos planetas. O gigante Jahr que habitava a estrela vermelha sentia um ódio profundo da beleza da Terra. Certo dia, tomado pela ira da inveja, pegou uma vara enorme e com ela arrancou da Terra o seu manto, deixando-a nua no meio do espaço. Os outros planetas condoídos, restituíram a Terra seu manto de florestas, seus oceanos, seus desertos, seus campos, montanhas, rios, pântanos e lagos, suas geleiras polares, e todos os animais vivos da superfície e das profundezas, que andam, nadam, rastejam ou voam. Ficou este mundo mais belo que antes.
Vendo que de nada adiantou arrancar da Terra o seu manto, o gigante Jahr, como vingança, criou e colocou na Terra a humanidade. Talvez esse antigo conto nos mostre o animal humano como uma espécie predestinada a destruir o mundo que habita. Vivemos um momento crucial da nossa história. A esquizofrenia urbana industrial é um monstro com imensa bocarra a mastigar nossas vidas. Vivemos a síndrome de um consumo coletivo, cada vez mais voraz, e as cidades se tornaram ilhas de pressão, agitadas e quentes, geradoras de lixo, assassinas de árvores e rios, o palco de uma grande tragédia humana.
Todos os dias noticiários nos assombram com acontecimentos sinistros, quase todos, exceto as guerras, de origem climática ou sísmica. Ou tudo junto, muitas vezes. A moça do tempo, tão bonita, anuncia catástrofes como produtos de supermercado. O astro principal, o Tempo, com seu humor instável e muitas vezes avassalador, domina o centro da cena, e todos os holofotes estão sobre ele, todos na expectativa de algo grandioso como o fim do mundo. Mas será que é isso mesmo o que queremos? Ultrapassar a linha que nos separa definitivamente do fim. Como numa superprodução hollywoodiana assistiremos ao final da grande aventura humana na terra, e seremos nós os protagonistas deste triste desfecho.
Apesar de um discurso tão pessimista, e de sentir na pele o aquecimento global, afinal moro em Cuiabá, existem pessoas que realmente se importam e compactuam com as ações que podem contribuir de alguma forma a minimizar os impactos provocados pelo mau uso dos recursos naturais que dispomos. Recentemente assisti um vídeo, produzido no programa de pós-graduação de ecologia e conservação da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), que me surpreendeu muito.
Pesquisadores da Unemat, das Universidades da Califórnia, Ohio, de Brasília e do Tocantins, coletaram dados importantes sobre a conservação da biodiversidade, considerando as alterações climáticas, para avaliar os riscos de extinção de espécies da fauna e da flora na transição cerrado/floresta amazônica. O documentário venceu o Prêmio Allianz Seguros de Jornalismo, dentre 1.367 vídeos-reportagem. É um exemplo de comprometimento com o futuro e de preocupação com as gerações que herdarão este mundo de agora, afinal que legado deixaremos aos que virão depois de nós?