1500 d.C.:
Macaco gigante sem nome em mata sem nome
balança rabo, sacode folha, agarra ramo.
De galho em tronco sacia a fome
Arranca piolho, puxa o rabo de um,
abraça outro.

Entre morros e serras
Na outrora exuberante Mata Atlântica
Mas que pro macaco é só mata
E mais nada.
Emite grito estridente
ouvido por todos
a longas distâncias.
Fertilizando a terra
Equilibrando o meio
E a si mesmo.

2000 d.C:
Pra homem branco
Que tem mania de catalogar
tudo que vê,
batiza o primata.
Muriqui é seu novo nome.

Já pouco resta da riqueza natural
da Floresta,
exterminada por mãos
humanas. Desumanas.
Ela respira viva num cantinho tímido
Reservado num ponto invisível
Do mapa do Brasil.

Como se não bastasse,
outra cólera assola a região.
O macaco com nome que
pouco lhe importa,
se extingue junto à Mata,
graças àquela Praga.
Febre amarelada
que homem branco
trouxe consigo
E que agora culpa macaco.
Dá tiro. Extermina. Assassina.
Morre, maldito! Morre!

A Serra do Brigadeiro,
antes sobremesa,
agora se amarga
com sua ausência.

O Muriqui sucumbe
e o silêncio impera.
Já não se ouvem os gritos
Já não se veem os abraços
Do bicho-grilo dos animais.
E a Mata Atlântica soluça baixinho,
se perguntando entre lágrimas:
pra onde é que foram
os nossos engenheiros da floresta?

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Jornalista mato-grossense formada pela UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e aluna de mestrado no programa de Divulgação Científica e Cultural da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

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