Absinto

beijos roubados na luz escarlate do vinho

quartos com portas abertas para o infinito

Paraísos revelados no delírio

e na febre risonha das caricias

nas cortinas feitas de florestas e jardins sem fim

onde eu habitava teu corpo

sagrado cálice de licor, volúpia e torpor

 

queria habitar para sempre teu paraíso

mas tudo passa e desmorona

nossos palácios

nossos tapetes

figos e uvas  colhidos

na aurora orvalhada dos dias

tudo se fez em pedaços

 

nada restou das róseas noites

dos véus que guardavam nossa cama

e nossa jovem nudez

tudo virou vertigem

brincadeira de seres inocentes

que invadiram sem saber o jardim de Deus

 

mas ficaram guardados

em uma gaveta de prata e marfim

sonhos que poderemos sempre evocar

sonhos feitos de jardins dourados

onde nossos corpos era um só corpo

livre para sempre do inferno e do céu

 

Livre Poema

Escrever me enfada

Prefiro a poesia solta

Sem o laço da palavra

 

Lavra sem escravo

Verbo sem escrevo

Tudo que se faz tão vivo

Por não ter se quer começo

 

Contradição de tudo que digo

Certos versos tão avessos.

 

Paulo Wagner é poeta

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