paro um segundo para contemplar o concreto do mundo, no balanço lento da rede percebo a vida que me habita, dentro e fora, uma pequena lagartixa camuflada pelo marrom entrelaçado com branco do tecido que me embala cai e corre atordoada pelo chão, sem entender bem o terremoto que a alcançou, deito-me com meu café amargo para apreciar a vista dos pinheiros, enquanto escuto o som dos passarinhos e a água suave que escorre da fonte, o vento é brisa, uma aranha tece sua própria rede e então, para o momento ser ainda mais sublime, o piano começa a tocar, forte, com um tom de saudade, entrando em todos os meus poros como nostalgia, ouço-a cantar do meu andar, da minha varanda, do meu quadrado apertado, e ela me preenche com a sua canção, a musica escorre de cima até chegar aos meus ouvidos, e se isso não é poesia, eu não sei o que é ou o que será

enquanto tece, a aranha dança, rodopia pelo ar, o ceu branco a engole mas ela ainda assim desce, desfiando as nuvens, dançando pelas notas do piano, resistindo ao vento, este é seu proposito, tecer, tecer, tecer, e meus olhos te dão novos sentidos, sua vida baila em uma dança tão simples quanto as teclas pretas e brancas de um piano. o silêncio reinou e mesmo assim, ela tece.

Compartilhe!
Marianna Marimon, 30, escritora antes de ser jornalista, arrisco palavras, poemas, sentidos, busco histórias que não me pertencem para escrever aquilo que me toca, sem acreditar em deuses, persigo a utopia de amar acima de todas as dores. Formada em jornalismo (UFMT) e pós-graduação em Mídia, Informação e Cultura (USP).

Comentário

Deixe um comentário

Please enter your comment!
Please enter your name here