paro um segundo para contemplar o concreto do mundo, no balanço lento da rede percebo a vida que me habita, dentro e fora, uma pequena lagartixa camuflada pelo marrom entrelaçado com branco do tecido que me embala cai e corre atordoada pelo chão, sem entender bem o terremoto que a alcançou, deito-me com meu café amargo para apreciar a vista dos pinheiros, enquanto escuto o som dos passarinhos e a água suave que escorre da fonte, o vento é brisa, uma aranha tece sua própria rede e então, para o momento ser ainda mais sublime, o piano começa a tocar, forte, com um tom de saudade, entrando em todos os meus poros como nostalgia, ouço-a cantar do meu andar, da minha varanda, do meu quadrado apertado, e ela me preenche com a sua canção, a musica escorre de cima até chegar aos meus ouvidos, e se isso não é poesia, eu não sei o que é ou o que será
enquanto tece, a aranha dança, rodopia pelo ar, o ceu branco a engole mas ela ainda assim desce, desfiando as nuvens, dançando pelas notas do piano, resistindo ao vento, este é seu proposito, tecer, tecer, tecer, e meus olhos te dão novos sentidos, sua vida baila em uma dança tão simples quanto as teclas pretas e brancas de um piano. o silêncio reinou e mesmo assim, ela tece.
Lindo esse texto!