O desmatamento para a instalação de monoculturas e pecuária está causando um colapso nos estoques de carbono da Amazônia. A revelação foi feita por pesquisadores das universidades UNEMAT (Universidade do Estado de Mato Grosso), UnB (Universidade de Brasília), UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso) e Universidade de Leeds (Inglaterra) e publicada na revista acadêmica internacional Forest Ecology and Management.

O estudo demonstrou que a expansão atual da fronteira agrícola é a principal responsável pela remoção de florestas no sul da Amazônia e, consequentemente, pela perda expressiva de carbono da vegetação e do solo naquela região. Isabelle Bonini, uma das autoras e aluna de doutorado da UNEMAT no campus de Nova Xavantina, explica que esse elemento pode ser um forte indicador ambiental nos ecossistemas.

“Nossa grande descoberta é que as perdas dos estoques de carbono no solo são maiores do que se pensava”, afirma. Segundo ela, isso ocorre porque, quando se desmata, o carbono presente nos seres vivos, principalmente nas plantas, é devolvido para a atmosfera na forma de dióxido de carbono (CO2), o que causa aumento de temperatura e mudanças climáticas no planeta.

Extensas áreas de floresta foram convertidas em lavouras de soja no sul da Amazônia ao longo dos anos, o que está causando um imenso colapso nos estoques de carbono. (Foto: Cortesia UNEMAT)

Mas, afinal, para que serve o carbono?

Por sua capacidade de formar moléculas complexas e estáveis, o carbono é um elemento químico essencial para a vida na Terra. Sem ele e suas características, a vida, tal qual conhecemos, não existiria. Para as florestas, o carbono desempenha um papel primordial.

Combinado ao oxigênio, esse elemento tem a capacidade de formação de moléculas de gás carbônico (CO2). As plantas naturalmente retiram o carbono na forma de CO2, o dióxido de carbono, da atmosfera e com ele realizam a fotossíntese, um processo que produz energia e permite o crescimento delas.

Desse modo, quando ocorre a queima de florestas e o desmatamento para a produção agropecuária, o CO2 deixa de ser reciclado pela fotossíntese e se acumula em quantidades excessivas na atmosfera. “Nesse amplo debate de mudanças climáticas e aquecimento global, perder carbono significa a perda da capacidade de armazenamento desse elemento e também da regulação dos gases de efeito estufa”, lamenta Isabelle.

As conclusões do estudo

Diante das mudanças ambientais globais, o trabalho dos pesquisadores verificou que ocorre a perda de mais de 100 toneladas de carbono por hectare, tanto do solo quanto da vegetação da Amazônia, o que implicaria diretamente em uma mudança do clima. Mas por que isso pode gerar um colapso irreversível?

A autora responde: “As perdas de carbono podem acarretar também em perda de diversas funções e mecanismos de regulação dos ecossistemas, o que poderia torná-los mais frágeis. Nós estaríamos falando aí de fragilidade tanto em relação à biodiversidade e perda de habitats, quanto a regulação do clima”.

Os pesquisadores retiram amostras do solo e, por meio de análises químicas em laboratório, verificam as quantidades de carbono existentes. (Foto: Cortesia UNEMAT)

O estudo demonstrou que as maiores perdas nos estoques de carbono estão na biomassa (matéria viva), mas os aumentos nas emissões de CO2 do solo são, nas palavras dos especialistas, surpreendentes e inesperados, podendo chegar a 5 gigatoneladas até 2050 em toda a Amazônia. Esse valor é equivalente ao dobro das emissões anuais globais de carbono por desmatamento e 1,5 vezes mais do que todas as emissões anuais do Brasil.

Coleta de raízes finas em floresta de transição amazônica (Foto: Cortesia UNEMAT)

“A estimativa de desmatamento na Amazônia até 2050 é de 40%. Isso revela uma perda quase permanente de carbono, pois os estoques perdem a capacidade de se recuperar após os prejuízos induzidos pelas mudanças de uso da terra”, alerta. O solo passa a emitir mais carbono que o esperado após o desmatamento, mesmo depois de decorridos 30 anos, o que piora ainda mais uma situação já crítica.

Ações urgentes

A cientista lembra que a escolha da palavra “colapso” é pertinente porque expressa bem a situação crítica que se encontra a região amazônica. “O colapso dos estoques de carbono está mais relacionado a perda definitiva das funções dos ecossistemas e isso pode ser irreversível”. Mesmo assim, existem algumas soluções imediatas que, se colocadas em prática, podem contribuir para a diminuição desse fenômeno destrutivo.

“Com o uso de boas práticas agrícolas, como o plantio direto, a otimização das áreas agricultáveis ou até mesmo a integração lavoura-pecuária, é possível minimizar os efeitos negativos decorrentes da conversão de florestas em monoculturas agrícolas. Além disso, o cultivo de espécies perenes, como a seringueira, pode ser uma boa alternativa, porque elas acarretam em perdas muito menores de carbono. Eu posso dizer que esse fenômeno pode sim ser revertido, desde que medidas urgentes sejam tomadas”, conclui Isabelle.

Deixe um comentário

Please enter your comment!
Please enter your name here