Por Tiago D. Oliveira*
a sua voz esticada a porta
do elevador fechando e a palavra
açúcar – não esqueça do açúcar –
entre o 9º e o PG lembro
das ondas e do duplo do mar
daquele que entende diante do poema
que é preciso aprender a ficar submerso
volto para o açúcar e o elevador sacode
abre a porta – bom dia seu zé – será será
um duplo de beleza despercebida
açúcar e o sinal quebrado
os carros abrindo e fechando a luz
e não chove e não há uma folha
solta voando só os prédios percebem
o som da nossa voz sob nós
é preciso aprender a fica submerso
é um poema de Alberto Pucheu
submerso no mar no trânsito
das ondas até que sejas
lançado de volta para a superfície
quando era menino mergulhávamos
no tanque da laje de Duda
um minuto um e trinta
um e cinquenta dois
o ar nunca foi igual:
vivemos para respirar
entre o açúcar a folha
e o poema de Pucheu
caminho em silêncio entre
escrever é ter acesso
é aceitar a diferença que há
no peso dos corpos sobre a terra
*Tiago D. Oliveira, de Salvador-BA, professor e pesquisador, estudou letras na
Universidade Federal da Bahia (UFBA) e na Universidade Nova de Lisboa (UNL).
Tem poemas publicados em blogs, portais, revistas e jornais especializados
no Brasil e em Portugal. Publicou o livro de poesias, Distraído, em 2014
e um novo trabalho, Debaixo do vazio, em 2016. Acesse seu blog, aqui.