Por Marli Walker

 

meus ossos minerais

carregam várias mulheres

sinto-as todas

(antigas e constantes)

sobre a coluna cervical

 

(aguente firme, diz uma tia-avó

é melhor não se envolver, diz outra)

 

são tantas mulheres

em meus ossos paleolíticos

tantos detritos

tantas noites em claro

tantos partos e perdas

o leite empedrado no seio

de todas elas em mim

 

no fundo escuro da caverna

eu (primitiva e extenuada)

ainda afago os cabelos

de minha bisavó

(e às vezes choro um pouco)

 

Marli Walker é poeta, escritora e professora. Doutora em Literatura pela UnB, leciona no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso, Campus Cuiabá. É autora dos livros de poemas “Pó de serra” (2006/2017), “Águas de encantação” (2009), “Apesar do amor” (2016), selecionado pelo MEC para constar no PNLD e pela prefeitura de São Paulo e “Jardim de ossos (2020), no prelo, premiado pelo edital Estevão de Mendonça de Literatura e do romance “Coração Madeira” (2020).

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