A chuva cai pesada em Cuiabá!
Abençoada seja esta manhã.
Parece que lavou a alma, a temperatura agradável passeia pela pele, o som do carro passa pela janela e soa bem aos ouvidos.
Palmas ecoam fortemente pela sala, as mãos gordas do vendedor ambulante, graves, poc poc poc,
corro os olhos míopes sem lentes para sua direção, ele insiste em vender objetos que não identifico, algo de plástico verde.
Não tenho nada aqui. Sem dinheiro.
Ele insiste,
estou trabalhando, hoje é domingo, parece pedir respeito, digo que sim com os olhos, compreendo, sei como é que é.
Mentira! Sei nada,
nunca arrastei um carrinho cheio de objetos verdes, de plástico ao que parece, cruzando a cidade com seus milhares de pontos de vista, milhões eu diria.
Ele pergunta pra que lado fica a rodoviária nova? Não me recordo de nenhuma rodoviária nova, só lembro da antiga, faz tempo que existe essa rodoviária. Digo que é pra lá, suba a rua até o fim. Vire a direita e siga sempre, está longe! Depois você pergunta de novo, lá na frente,
ele agradece, saí, vai embora na direção indicada.
A vida ambulante segue sobre rodinhas. Economicamente inviável. Viver não é nada fácil. Sobre rodas, sobre os próprios pés. Sobre a superfície dos terrenos vamos caminhando sob sobressaltos acidentais.
Sobe morro, desce ladeira, atravessa pontes, ultrapassa linhas divisórias, reais ou imaginárias, me parece que imaginar requer menos esforço, ao menos fisicamente, não resta dúvidas, nesse momento é mais confortável imaginar. Uma espécie de nômade na psique desordenada.
Pula-se
de um lugar a outro, descobrindo novos pontos de percepção aguçada. Melhor é não fazer nada, de Kerouac a Dostoiewski, nos subsolos, nos subterrâneos da mente, no apropriado vazio existencial.