Quando eu descobri o micro habitat

Por fauno guazina*

Para ler ouvindo:

“Primeiramente, fora Temer!”

Quando comecei a faculdade de comunicação social em 2004, eu já ouvia que nada te faria ser mais global (referência à globalização, por favor!) do que falar de sua aldeia. Ou seja, já havia a percepção de que a busca por um modelo internacional padrão ideal era uma furada e que o cibermundo queria mesmo era informações. Quanto mais melhor, informações de todos os cantos. Não demorou para todos percebermos que somos dotados da capacidade de fornecer informações, não só isso, mas fabricá-las, manipular, distorcer, torcer e até voltar atrás, nós falamos. Ponto.

Onde eu quero chegar com isso? Simples, ao falar nos entregamos e quando opinamos revelamos nossas verdadeiras intenções, as vezes revelamos até para nós mesmos, que habitualmente pensamos de um modo. Eu, por exemplo, sendo gay achava que seria menos machista e misógino naturalmente, mas já me peguei muitas vezes reafirmando meu privilégio masculino sem perceber, pois fui criado assim, se tornando um etos, até aprendermos a desaprender e reaprender a cuidar dx outrx.

Esta semana me decepcionei com a constatação de que possivelmente Criolo tenha sido muito ingênuo, como aquele cara que compôs imagine. As pessoas estão perdidas é o caralho, elas são má sim. Teve um momento em que eu achei que elas estavam desorientadas, manipuladas ou cegas mesmo, mas nesse acirramento político as máscaras começaram a cair, as pessoas estão tendo que opinar todos os dias sobre o que realmente importa em sociedade, o modo como nos relacionamos com o outro, todxs xs outrxs.

Me deparei com amigos e colegas de trabalho relatando experiências semelhantes as minhas, de debaterem opiniões políticas com familiares e amigos e se assustar com seus pensamentos mesquinhos e pequenos. Independente de serem pessoas de “bem” que fazem caridade há 30 anos ou com gigantesco índice de instrução, como doutores e magistrados. O fato é que as pessoas estão mostrando que realmente são egoístas e que suportam qualquer coisa desde que sua vida faça sentido de algum modo e que estão sujeitas a defenderem com unhas e dentes a possibilidade de manter a tirania só por medo de perderem suas posições.

Infelizmente nossa corja de políticos tem ampla representação na população brasileira, não estamos passando por uma fase só de alienação e burrice, mas estamos passando por uma fase em que se separa o joio e o trigo, só que estamos tentando fazer isso no meio da lama. A imundice capitalista somente cria competidores, como tiranos obstinados pelo poder, não possuem amigos, somente aliados e não lutam por ninguém.

Atacar um de nós é atacar todxs nós.

Mais importante do que a batalha é quem luta ao seu lado.

Nós vamos vencer, nós temos por quem lutar.

Aos nossos inimigos, eu só desejo que vocês encontrem pessoas iguais a vocês.

*fauno guazina é produtor cultural, designer e professor universitário.