Felipe Neto se tornou uma ameaça à segurança nacional. As manchetes dos principais jornais colocam o jovem youtuber no centro de uma polêmica incitada por Carlos Bolsonaro. O motivo da denúncia? Um tweet chamando Jair Messias Bolsonaro daquilo que ele realmente é: um genocida.
Fazer uso de todo o aparato institucional para transformar fake news em realidade (ou o mais próximo possível disso) é o modus operandi deste governo autocrático e fascista. O Brasil não é para amadores. Um país alicerçado no extermínio sistemático de seres humanos.
Bolsonaro representa aquilo que estava escondido, abafado pelos porões, mas sempre existiu. É o que somos também, por mais que queiramos enterrar fundo essa faceta da nossa população. Agora, a caixa de pandora se abriu e parte de nós está aterrorizada com as falas, as condutas, a omissão proposital e organizada. Outra parte, vibra, apoia, endossa.
O que nos paralisa a ponto de não conseguirmos uma oposição eficiente a tantos absurdos? Todos os dias uma cortina de fumaça diferente para cegar nossos olhos. “Leite condensado para enfiar no c* da imprensa”. E eles riem, debocham, escracham. O escárnio.
Com mais de 40 milhões de seguidores, Felipe Neto usa suas plataformas e dá voz ao grito contido na garganta de tantos outros, que não possuem o mesmo alcance. E ainda é muito pouco. É quase nada. Mas repercute. Gera uma queixa-crime, uma intimação. Enquanto isso, o Brasil está de joelhos diante da pandemia. Números que crescem, a morte que se aproxima, corpos que se empilham, como se nada fossem, como se não fossem pessoas, com histórias, nomes próprios, famílias, amores, saudades, conquistas, desgostos, derrotas.
Que outra palavra empregar aí se não genocida?
A jurista Deisy Ventura afirmou, em entrevista à Eliane Brum, que há indícios significativos para que autoridades brasileiras, entre elas o presidente, sejam investigadas por genocídio pelo Tribunal Penal Internacional. Há robustez em denúncias apresentadas à Corte de Haia. Ela cita o negacionismo, a comunicação como instrumento para disseminar desinformação sobre o vírus, a atuação direta do presidente para dificultar o combate à Covid-19, a falta de amparo aos estados, a ausência de um plano eficaz de vacinação em massa.
O objetivo é exterminar, matar, acabar, liquidar, finalizar, assassinar. O objetivo é o genocídio das pessoas do Brasil, das camadas mais vulneráveis. É uma sentença de morte assinada com a caneta azul que ele tão orgulhosamente exibe em suas demonstrações públicas de desprezo com requintes de crueldade.
E parte desse objetivo é alcançado através da comunicação, das palavras que alcançam a realidade e se perpetuam em nossas rotinas. O presidente vetou o acesso dos povos indígenas à materiais informativos sobre os sintomas da doença, em formatos diversos, por meio de rádios comunitárias e redes sociais, com tradução e linguagem acessível. Bolsonaro vetou a obrigação de se explicar aos indígenas a gravidade do coronavírus. Essa atuação orquestrada é para a morte, é para acabar com aqueles que são considerados descartáveis pela família miliciana.
A entrevista com a Deisy Ventura é extremamente importante para entendermos a dimensão do crime, para darmos o real significado à essas ações e formar na boca a palavra que Felipe Neto escreveu: genocídio. Genocida. Bolsonaro é genocida. Não há outro termo para classificar o governo bolsonarista.
Nesse horror cotidiano que estamos inseridos, precisamos construir novos sentidos, novas possibilidades, que não se vinculem aos processos de morte que testemunhamos desde sempre e que voltam maximizados e encarnados na figura grotesca de Bolsonaro, o genocida.