Não sei para onde vou. Meu destino é incerto. Sei que sou bom. Sou forte, resistente. Aguento longas caminhadas. Sou companheiro pra toda hora. Sério, sou muito confiável. Claro que a minha aparência pode provocar dúvidas ao meu respeito, dúvidas fazem parte.
Lembro-me como se fosse hoje, eu ainda novo, cheirando goma de mascar, preparado para enfrentar o mundo com toda a disposição possível.
Minha rotina era básica: logo pela manhã começava o batente. Aqui onde vivo o sol é muito intenso. A universidade fica perto e por isso é dispensável o uso de carro. Uma caminhada pela manhã é muito revigorante. Mas na volta, em torno do meio dia o calor é muito desconfortável. O asfalto quente uma verdadeira tortura. Por isso, antes de chegarmos em casa passávamos umas horinhas no bar.
Uma ilha de frescor.
Depois de algumas cervejas hora de partir. Apesar de pensarem o contrário um estudante tem sempre muito a fazer. Conteúdo para ler, provas, relatórios, pesquisas. É uma vida cheia de cobranças. Parece mentira que tanto tempo se passou. Não posso negar que sinto muito que as coisas terminem desse jeito.
Aqui estou eu, encostado ao pé da árvore da calçada. Sei que nos últimos tempos meu colega foi me deixando de lado e deu de andar com os outros, mais novos e atraentes. Sinceramente não entendo. Fui descartado, não é mesmo? Isso dói, mas quem sabe encontre outro companheiro. Tem sempre um sapato velho para um pé cansado.
que maravilha Anna! um brinde à boa literatura!