Encontrar o Léo foi como reencontrar aquele menino de trinta anos atrás. Morei em sua casa, acho que no ano de 1986, a convite de Avani, sua mãe. A casa ficava em um sítio localizado em Chapada dos Guimarães, no fundo do vale, o Vale do Jamacá.
Água brotava cristalina, corria sobre as pedras de cores múltiplas, refletindo o sol que rasgava as frestas da mata. O mundo era tão bonito. Éramos libertários vivendo em comunidades, hippies ideológicos, queríamos transformar o estado das coisas.
Lá embaixo, onde o vale desembocava, o riacho formava uma pequena lagoa, pequena mesmo, um recanto mágico. Volta e meia uma pequena fada azul em forma de borboleta pousava sobre nossas cabeças e abençoava um a um, num ritual mágico, ela bailava sobre nossas cabeças e dançava a dança da harmonia.
O Léo era um menino muito curioso. Queria explicação sobre todas as coisas em volta, encucava e queria decifrar todos os fenômenos, mateiro que era estava sempre fustigando os interiores das matas. Em volta da casa tudo era mato. Ambiente natural perfeito para saciar a curiosidade e desenvolver o conhecimento que está contido nas coisas, recolhendo sabedoria nos sinais que a natureza emite.
A compreensão desses sinais exige que se dedique atenção. Paciência. Observação.
Mas hoje o Léo é de Rocha, Leo Rocha virou marca, grife de sobrevivente, survivor dos holofotes midiáticos. A destilar experimentações na relação com o mundo primário diante das câmeras de TV, Discovery, a fama alçou seu nome a status de grife. O mundo favorece as marcas mais fortes. É penoso sobreviver nessa selva urbana, em meio ao caótico mundo das famas que vêm e que vão ao sabor das multidões. Ele rompeu com a gigante Discovery por não concordar com os termos oferecidos de contratos que buscam explorar sua imagem e não querer pagar bem por isso. Sabe que a fama é pura ilusão e sua busca é maior que isso. Vai trilhar caminhos livres e criar seus próprios canais de interação com as pessoas.
O desafio do Leo agora é mostrar e convidar as pessoas a vivenciar como é sobreviver em condições quase que absolutamente naturais. Se alimentar com o que o ambiente oferece. Ele deu início a uma espécie de curso, ou laboratório, de vivência no mato, explorando as condições que o ambiente oferece. Em tempos pré apocalípticos, eu diria que é uma grande alternativa aprender a sobreviver num ambiente inóspito, ou mesmo abundante, e extrair das condições locais seu próprio sustento, e isso de uma forma hostil, pois a natureza, dependendo do ponto de vista é violenta e desafia nossas frágeis dependências das mil e tantas prateleiras dos abundantes supermercados. Tudo que necessitamos está ali. Fácil (?). Colorido, bonito e cheiroso.
Seja o caos urbano, seja o caos natural, o que importa é você superar as grandes dificuldades que se apresentam para sua sobrevivência, o que te instiga e provoca os desafios para você vencer seus medos e inseguranças. Hoje em dia o mato dá medo nos humanos habitantes da urbe. Até porque a sobrevivência em condições extremas não é para qualquer um e a população das cidades não cabe no que restou de mato. O ideal de uma vida autossuficiente integrada à natureza morreu com o sonho comunitário do ideário hippie. John Lennon já vaticinava décadas atrás: o sonho acabou.
A explosão demográfica junto com a explosão da sociedade urbano industrial e seus índices de consumo incontroláveis inviabiliza qualquer ideia de uma sociedade agrícola, fraterna, igualitária e equilibrada com o meio ambiente. Agora, as cidades e suas relações complexas é que são o grande desafio do homem contemporâneo. Mas o Léo viveu por um período em comunidades indígenas no Xingu (com apenas 11 anos ele passou seis meses no Parque Indígena e teve que ser retirado pela Funai – a sua autorização era para passar cerca de um mês) e isso permitiu que desenvolvesse conhecimentos ancestrais da lida com a sobrevivência nas florestas e no cerrado. Como ele diz, a natureza contém bulas que exigem um olhar atento e observador, conhecimentos transmitidos através das gerações dos pajés que lidam com a cura e com conhecimentos transcendentais. Ora, a urbe não dá espaço para contemplações. Vivemos sob a égide da urgência e da velocidade. Sob o martelar implacável do tempo.
Ele ampliou as relações com os índios e atua como um entreposto que busca valorizar a produção artesanal indígena e defensor intransigente da causa. Mantém uma loja, Leo Rocha Arte Indígena, em Chapada dos Guimarães onde mora, e em Várzea Grande, no aeroporto.
O menino Léo cresceu de verdade e expõe sua visão de mundo de uma forma muito lúcida e madura, respeitoso e sensível. Ele acredita, sobretudo, na vida e na capacidade do ser humano em superar desafios. Você vai poder conferir logo logo aqui no site, na TV de Quinta(L), uma entrevista reveladora em que falamos de tudo isso e mais um pouco.
Sou muito grato a você meu amigo, pelo seu respeito e consideração e pelas palavras sobre minha historia.
Acredito que nunca é a toa que se conhece uma pessoa, sempre é para trocar.
Nossa troca começou a tantos anos e me sinto honrado que se intensifique.
Sinto que apesar do tempo, estamos apenas no inicio de uma longa trilha juntos a caminho da grande evolução.
Gratidão, forte abraço irmão.
Leo onde é o curso?
forte abraço, guerreiro, vamos juntos na trilha.
Esse Léo o cara!!! Super inteligente, sábio e de uma simplicidade incrível! Te admiro muito,Léo!