Documentos > Vídeos
Space + R + Enter
Requiem For a Dream
Enter

 

Dentre um sem-fim de junkie movies, o primeiro pensamento quase sempre me leva à Requiem for a Dream, dirigido por Darren Aronofsky – o mesmo diretor de PI -, ambos filmes independentes com os contornos nítidos de seus diretores criativos, principalmente do diretor de fotografia Matthew Libatique. Produzido em 2000, o filme vem numa sequência de produções independentes americanas que mostram um sonho americano às avessas, uma decadência apaixonada e infame, suja e desenfreada, por vezes ingênua. O que liga Harry (Jared Leto), Marion (Jennifer Connelly), Tyrone (Marlon Wayans) e Sara (Ellen Burstyn) é a solidão em suas várias faces, mas que quase sempre assume a forma de uma seringa ou comprimidos coloridos.

4xwwvbtyeqzfdix2kop1rstx9dr

Pretendo pensar em primeiro plano as características da representação visual, mas isso não anula de forma alguma as relações entre narrativa/imagem/trilha, pelo contrário, as fortalece. Aronofsky, Libatique e o editor Jay Rabinowitz constroem juntos o filme, pois grande parte de sua dramaticidade deve-se ao impacto da imagem e da montagem no espectador (ganhando inclusive uma paródia nos Simpsons). Uma de suas principais características, revelada desde o começo e utilizada com frequência no ditar do ritmo e na estranheza do todo é o uso de uma técnica chamada jump cut, que consiste em dividir uma única ação em muitos cortes, aliada ao uso de close-ups como quem diz “a magia está nos detalhes”. E como não podia deixar de ser, na repetição. Além de funcionar como passagem para outra cena/tempo, ela organiza processos complexos de forma satisfatória, poupando tempo – mas não informação – e deixando a história fluir. A evidência do corte e da montagem, os ângulos estranhos e bizarros e a crescente da trilha sonora demarcam o desenvolvimento do filme numa viagem sem volta à loucura, à paranoia e aos vícios institucionalizados e marginalizados.

tumblr_mz7npxwffr1rgwxhoo4_1280

Para não abrir mão dos planos próximos, as situações que envolvem mais de um núcleo de ação por vezes são filmadas em separado: desenrolam-se lado a lado na tela, mantendo a tensão e detalhando a história. No caso da primeira cena do filme, essa escolha visual demarca de cara o abismo existente entre mãe e filho. As relações de poder também são bem exploradas pelo ângulo da câmera em relação ao personagem, criando a relação de dominação/submissão ao outro ou a si mesmo, aos delírios do próprio vício. Utilizadas na maioria dos planos médios, as lentes grande-angulares criam retratos estranhos e perturbadores dos personagens de acordo com seus ânimos: quanto maior é a perturbação, maior é a distorção visual. Esta pode vir de várias formas: lâmpadas que piscam, movimentos violentos de câmera e sobreposições alucinatórias contrastam com a temperatura fria e os ambientes impessoais dos becos e hospitais. Essa máxima é quebrada apenas nos raros momentos de paz e delírio: linhas paralelas convergem num horizonte de mar em tons de azul, e encontram Marion de vestido vermelho.

tumblr_ni7i5yjbps1qg4blro4_1280

Dividido em três atos – verão, outono e inverno -, Requiem for a Dream engole quem o assiste com o crescimento contínuo do drama, das (in)consequências e da inevitabilidade de atos até então impraticáveis. Assistir ao filme é uma aula de cinema em todos os aspectos, e talvez por isso seja minha sexta vez. Cuidado pra não viciar também.

Deixe um comentário

Please enter your comment!
Please enter your name here