Por Ahmad Jarrah e Bruna Obadowski*

O percurso em um país afetado pela maior crise migratória do século revela paisagens sendo rasgadas por centenas de tendas de uma ocupação dramática e desordenada, fruto de uma guerra covarde e cruel. As tendas formam vários acampamentos para refugiados sírios que se estabelecem com uma certa anomia e atravessam todo o país. Essa condição tornava explícita a necessidade de documentação da vida em meio a esse caos.

IMG_8920
Ahmad Jarrah e Bruna Obadowski

A inquietação toma conta a medida em que a vulnerabilidade daquelas frágeis instalações vai se revelando. Vielas de areia batida, rede elétrica precária, ausência de saneamento e água encanada. Não há salubridade, tampouco higiene nos acampamentos. Os banheiros são compartilhados e a maioria dos barracos são de chão batido.

IMG_0302
Ahmad Jarrah e Bruna Obadowski

Porém, com toda a escassez estrutural, o que mais comove é a precariedade da condição humana expressa no semblante de cada sírio. Despertava então a vontade de retratar o ser humano e a resistência da vida em seu curso habitual.

IMG_8874
Ahmad Jarrah e Bruna Obadowski

Um cotidiano singular carregado de sentimentos provocava um turbilhão de sensações. Nos olhares, o desalento ao mirar o horizonte e ainda não conseguir enxergar o que acontecerá logo em frente. O cheiro carrega um aroma amargo da conquista, de sobreviver mas deixar para trás suas casas, seus familiares, suas vidas. A ingenuidade das crianças é algo que sensibiliza e ao mesmo tempo atormenta. Os sorrisos que fendem rostos marcados pela dor. As cicatrizes visíveis e ocultas que muitas vezes jamais se fecharão.

IMG_0189-2 cópia
Ahmad Jarrah e Bruna Obadowski

A angústia de ver uma garota se escondendo do sol escaldante sob a sombra de uma tenda cuja lona é a publicidade de um banco “You can put a value on a house, but not a home” é perturbadora. Outras crianças brincam em um trator abandonado “Estamos voltando para Síria!”, comemoram, em um sonho de terem de volta o seu lar.

IMG_0204
Ahmad Jarrah e Bruna Obadowski

Os acampamentos estão repletos de crianças e mulheres em seus afazeres, principalmente transportando garrafas de água de um lado para outro. A sobrevivência financeira dos refugiados depende de uma pequena ajuda do governo e do árduo trabalho nas plantações de batata e nas feiras livres.

IMG_0621
Ahmad Jarrah e Bruna Obadowski

Os sírios também tem se inserido no mercado de trabalho libanês operando tarefas braçais, e pelo baixo preço da mão de obra já começam a causar atritos. Os serviços públicos não dão mais conta de atender toda a população. Em breve poderemos ver cenas lamentáveis de uma grave consequência da guerra na Síria, o acirramento de uma disputa interna em um país onde os refugiados já representam quase um terço da população. O clima é de apreensão.

IMG_9113-2 cópia
Ahmad Jarrah e Bruna Obadowski

Assim como vultos invisíveis, com as faces marcadas pelo sofrimento, os sírios percorrem as ruas libanesas em busca da sobrevivência. Sem a piedade do tempo, que corre enquanto seus lares estão sendo devastados, sem a condolência dos homens que continuam a engendrar as mais abomináveis perversidades.

IMG_0813 cópia cópia
Ahmad Jarrah e Bruna Obadowski

Nas fotografias, as histórias gravadas em suas peles traduzem a força de quem ainda resiste, ainda que tenha perdido todo o resto. A vida é o triunfo dos sobreviventes, mesmo com todas as incertezas de quais serão os seus destinos.

Biografia dos fotógrafos

*Ahmad Jarrah, fotojornalista, mestre em estudos de cultura contemporânea e professor do ensino superior. Ativista de causas sociais e humanitárias.


*Bruna Obadowski é geógrafa e mestranda em Estudos de Cultura Contemporânea com foco em fotografia. É fotógrafa por paixão e produtora audiovisual.

Comentário

  1. a inutilidade de tudo…
    o mundo tem que parar…
    e rever
    retudo
    o lixo escória
    pátria é mentira dolorosa
    ser ser…como? (as fotos são desesperadoras)
    expansão de miséria futuro
    (aterrador)
    salvo algumas “ilhas” pode-se ver todo o mundo nesse contexto miseravel

Deixe um comentário

Please enter your comment!
Please enter your name here