Subo as escadas da Pinacoteca e as batidas de música descem os degraus em minha direção. O som vem de um piano, marcado por intervenções artísticas, de onde mecanicamente as teclas são pressionadas. Entre instalações gigantes e painéis coloridos, os espaços vazios são preenchidos por sonoridades e os beats de hip hop acompanham todo o percurso da exposição “Segredos”, a maior retrospectiva já realizada da intensa produção de OSGEMEOS.
Na década de 80, dois garotos do Cambuci, região central de São Paulo, começam a se arriscar nas improvisações musicais, cantando rap, dançando break, tocando e grafitando. Aquele era o início da trajetória artística dos irmãos brasileiros, Gustavo e Otávio Pandolfo, que a partir de então passariam a percorrer o mundo pintando de colorido ruas e museus.
É no metrô São Bento o ponto de encontro durante a efervescência hip hop na capital paulista. No final da década de 80, os irmãos começam a buscar um traço original e desenham sistematicamente.


A ascensão é meteórica e no final da década de 90, o trabalho começa a reverberar no exterior, chamando atenção de novos parceiros, que oportunizam a chegada de OSGEMEOS na Alemanha, onde grafitaram um mural no evento internacional ISART, em Munique. Com um intenso intercâmbio cultural com artistas de diversas nacionalidades, OSGEMEOS passam a cruzar os ares e marcam presença com seus desenhos em diversos países.
Em 2003, acontecem as duas primeiras exposições individuais da dupla nos Estados Unidos. Logo em seguida, em 2005, inauguram a primeira mostra individual em Nova York: Cavaleiro Marginal, na Deitch Project Gallery. Naquele mesmo ano, fazem o primeiro mural na cidade, em frente à estação Coney Island do metrô.


Selecionar e organizar uma retrospectiva como a realizada na Pinacoteca é missão trabalhosa, já que os irmãos produzem arte com velocidade impressionante. O caminho traçado revela a evolução nos traços e nas referências, sem nunca se desvencilhar daquilo que os inspira, afinal a música é presença constante nesse trajeto.
Com o tempo, os irmãos foram criando os personagens e todo o universo que compõem a obra. Trata-se de um mundo colorido e psicodélico chamado Tristrez. Mas nem só de cores vivem OSGEMEOS, suas composições possuem pinceladas expressivas de crítica social, denunciando a repressão policial, a desigualdade que assola o Brasil, os desmandos dos poderosos de plantão e a certeza da impunidade política.




Estar em contato com tanta cultura e história, após mais de um ano e meio sem pisar em uma exposição, é cultivar a certeza de que a arte é o único meio possível para transformar os rumos de uma sociedade cada vez mais desconectada da realidade.