Por fauno guazina*
esse diálogo dilema de mim mesmo é um debate de corpo e mente, análogos aos verbos ser e estar, é imprecisão de forma, mas também de conteúdo. apesar de começar na certeza da afirmação, há sempre uma inconstância de definição que requer mais análises, para profundo reconhecimento. o que eu sou não cessa, mas meu corpo é temporário, minha mente passageira de mim mesmo e, portanto, ser o que sou é estar e não ser.
meu começo contradição é também afirmativa certeira e precisa de multiplicidades de ser e estar nesse corpo que é todo verdade de uma mente, que difusa, se debate entre o eu corpo e o meu corpo, formas de estar vivo e enxergar os limites, também difusos, de habitar uma forma imprecisa de ser, ao mesmo tempo corpo, mas também mente.
talvez seria mais simples dizer que sou minha confusão que ao mesmo tempo é este corpo que também é desejo de tudo que me falta, mas isto seria mentir para mim, eu minto muito para mim, o que eu sou não tem definição, meu ser é estar, minha constância mutação, meu contínuo é reconhecimento de mim, eu sou esse corpo que me ensina ser, estou vivo, mas as vezes, as vezes, talvez desejasse morrer.
meu tête-à-tête comigo mesmo é a realização de que eu sou eu onde quer que eu vá, e vou, eu sempre vou, infinitas vielas do ser, urbanidades de meus seres. também me perco, me perco muito em mim mesmo, há becos de ser, sou as vezes caminho sem saída, das falésias do meu ser até as urbes das minhas projeções, prados esquecimentos, florestas memórias, há muito de mim plantado e esquecido em mim.
dilemas dimensões se chocam e me abre para mim o que de mim sempre houvera sido, ser e estar, ao mesmo tempo inteiro e partido, mas só agora realizo que eu sou aquilo que reconheço durante cada encontro de mim diante de cada novo eu, isso me tem sido ser, eu não tem fim, não cessa.
*fauno guazina é produtor cultural, designer, professor e urbanista.